O rosto da indo-América
J. J. Duran
Todas as vezes que tentaram eliminar o Direito na vida da sociedade, o povo assistiu ao intento demencial de apóstolos da mudança para implantar um sistema político autoritário com suas míticas e funestas figuras democráticas personalistas que, aprisionadas em seus inexplicáveis e subalternos interesses, transformaram o sonho em pesadelo republicano.
E os coros domesticados desses novos messias salvadores e louvadores de um passado agridoce sempre agiram sem demonstrar qualquer remorso pela usurpação que cometiam ao reivindicar, furiosamente, a volta do autoritarismo e a morte republicana da democracia.
Vivemos um momento crítico, no qual um cataclismo sem precedentes sacode nossa sobrevivência. Só o sincero desejo de pacificação e a rejeição pacífica ao negacionismo primitivista permitirão sair desta conjuntura tormentosa.
E conciliar sem acomodações subalternas é compreender e restaurar em sua plenitude a democracia que levou à eleição dos governantes de hoje.
Com o espetáculo degradante protagonizado por vassalos submissos escolhidos para manipular o esqueleto em que foi reduzida a política de saúde estatal, compreendemos que o atual processo feudalista governante diminui e avilta os escolhidos diante da sociedade.
Realmente, o quadro desenhado pelo poder governante para selecionar seus ministros é do mais estranho subjetivismo e da mais clara busca da subserviência mais deslavada.
Essa busca de "atributos" recomendáveis para o exercício de funções que extrapolam o conhecimento da ciência já levou, em tempos idos da nossa história, ao término fatal de movimentos políticos-personalistas, que marginalizaram e atropelaram normas democráticas de convivência e se perderam nos descaminhos do autoritarismo.
Sempre que movimentos políticos incidentais surgiram na história indo-americana, terminaram aniquilados e registrados pela história como períodos de um passado de distinta conceituação e triste lembrança.
A democracia imposta pelos bonapartistas dos trópicos, com sua burguesia ruidosa e que se mostra insensível à realidade, está se colocando a serviço de mitos em cujo holocausto também serão sacrificados.
A Indo-América tem o rosto ensanguentado de um continente exausto de bater na porta da justiça social, que chora pelos seus mortos e teme pelo seu futuro.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná