A palavra empobrecida
J. J. Duran
Na indo-América de hoje, a palavra se desvaloriza perigosamente. Muitos gestores políticos valem-se dela para ocultar a verdade e tergiversar os fatos. Assim, levam como rebanho aos menos informados e aos defensores irredutíveis dos tempos mais cinzas da História.
Com o uso tosco da palavra, empregado como ferramenta política, muitos governantes instalam no imaginário daqueles ideologicamente domesticados a certeza de que o novo Messias redentor das causas nacionais deve ser ouvido e endeusado como se fosse um mensageiro apocalíptico.
Urge que esses governantes resgatem o valor republicano que a palavra teve em tempos idos, pois na política ela (a palavra) tem relevância singular quando é usada para dizer a verdade sem agressividade.
A mentira, uma vez aceita como verdade indiscutível por partir de"apóstolos"da renovação, representa uma terrível ofensa à sociedade pensante. Repetida à exaustão e saída da boca de um governante, ela se converte em perversão destruidora do tecido social.
Desprezar as opiniões divergentes dentro do marco democrático significou, muitas vezes, o início de um tempo no qual prevaleceu a falta de reconhecimento dos próprios erros e o desrespeito aos acertos dos opositores.
Governar é aceitar a realidade e discordar dela dentro dos limites impostos pela razão. Reconhecer a verdade e assumir os erros significa estabelecer um compromisso republicano junto à sociedade como um todo.
Temos que abominar a intransigência dos fanáticos e a intolerância dos sectários que, vítimas da paixão, se tornam energúmenos e se blindam dos apelos da razão. Os insensíveis à realidade se conduzem cegos e determinados pelos esquemas de suas arrogantes filosofias e se deixam motivar pelos baixos instintos de um primitivismo telúrico.
A conciliação deve ser a tendência natural em todo governante responsável. Somar os antagonismos e transformá-los em força criadora é devolver à palavra toda beleza nela contida.
Silenciar fraternalmente e humanizar o discurso desrespeitoso significa acolher as vozes dos chacais que ainda uivam, famintos de ódio. Os governantes não devem se impor pela violência, tampouco pela mistificação da demagogia, pensamentos e ideologias do tempo fratricida que se alojou nas páginas amarelas da História. (Foto: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná