Voto, vacina e vida
J. J. Duran
O que motivou o presidente Jair Bolsonaro a dizer que"vão morrer os que têm que morrer"ao ser perguntado, no início da pandemia, sobre o que aconteceria no futuro?
O que o levou a manifestar seu despreparo para liderar o enfrentamento da pandemia que já enlutou mais de 260 mil famílias brasileiras que hoje choram a perda de entes queridos?
Ideologicamente, Bolsonaro se alinha à ultradireita nacionalista, com apoio religioso da maioria das igrejas evangélicas. Num desenho fugaz de sua personalidade, levando em conta os conceitos da política econômica implementada pelo ministro Paulo Guedes, podemos dizer que ele é um capitalista necrófilo.
O coronavírus implantou na mente de muitos a necessidade de muitas mortes para salvar a economia, pedra angular do desenvolvimento, do progresso e do bem estar da sociedade.
Para os frios e meticulosos defensores da economia de mercado, não existem direitos individuais, nem mesmo à vida, que devem ser colocados acima dos interesses econômicos.
Há bem pouco tempo Donald Trump, um presidente que chegou ao poder como resultado do momento repleto de incertezas pelo qual passa a humanidade, manifestou total desapreço pelas consequências apontadas pela ciência e pagou um alto preço por isso.
O agora histriônico ex-presidente chegou a protagonizar até mesmo um dos espetáculos mais deprimentes dos últimos tempos, estimulando uma rebelião para mantê-lo num lugar do qual foi apeado democraticamente pela maioria norte-americana.
Os adeptos da cultura da violência representam fielmente o pensamento de Adam Smith, para quem "aqueles que são sacrificados em benefício da maioria não são eleitos aleatoriamente. Morrem porque tinham que morrer".
Negacionistas desse tipo, absurdos difusores da necrofagia, têm um recurso narrativo tosco, por isso não se sustentam por muito tempo no poder.
Nos Estados Unidos, os eleitores deram uma lição de arrependimento e evitaram que um dos apóstolos negacionistas da ciência e da realidade continuasse no cargo de presidente. Neste caso, o voto republicano livre foi a vacina salvadora diante de uma espécie de pandemia que ameaça a vida em diferentes nações. (Imagem: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná