Consumo de carne cai, mas setor não tem do que reclamar
O brasileiro comeu menos carne bovina no ano passado. Pressionado por um aumento expressivo dos preços no varejo e pelos reflexos econômicos causados pela pandemia, a consumo despencou 10,5% em 2020, segundo a Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná). Em média, cada brasileiro consumiu 27,3 quilos de carne ao longo do ano passado - o mesmo patamar de 15 anos atrás. O auge havia sido registrado em 2013, com 33 quilos per capita.
Apesar disso, no entanto, as perspectivas são positivas para o setor produtivo. Com a disponibilidade reduzida de animais, a cotação da arroba tende a continuar em níveis altos - em torno dos R$ 300. Apesar de o mercado interno continuar sendo o principal destino do setor, as exportações tiveram uma alta de 26% no ano passado, o que contribui para o cenário favorável.
"A situação econômica foi determinante nesse contexto e essa instabilidade deve prevalecer em 2021. Há muitas incertezas em relação à retomada das atividades plenas e sobre o ritmo da vacinação, o que poderia contribuir para a retomada do consumo de carne bovina", explica Guilherme Souza Dias, técnico da Faep que foi o responsável pelo levantamento.
"A queda no consumo foi freada pelo auxílio emergencial, mas só isso não bastou. No Paraná, por exemplo, o preço da carne bovina subiu 35% no varejo. Isso faz com que os consumidores migrem para outro tipo de carne. E a gente não vê tendência de que isso mude significativamente no curto prazo", avalia Rodrigo Tannus de Queiroz, analista de mercado da Scot Consultoria.
CENÁRIO FUTURO
O reconhecimento internacional do Paraná como área livre de febre aftosa sem vacinação colocará o Estado no mais elevado patamar de segurança alimentar. O novo status deve derrubar por terra a restrição que alguns países ainda mantêm em relação a produtos que provenham de regiões sem a chancela mundial. Isso deve fazer com que as carnes produzidas no Paraná - não só as bovinas, mas também as de aves, suínos e peixes - cheguem a mercados mais sofisticados, que pagam mais pelo produto.
"Hoje, alguns países não se sentam à mesa de negociação conosco, porque ainda não temos o selo de área livre de febre aftosa sem vacinação. Mas, a partir de maio, com o reconhecimento da OIE, poderemos negociar com esses países, abrindo mais mercados, que têm consumidores mais exigentes e que pagam mais pelo produto", aponta o presidente da Faep, Ágide Meneguette.
Ou seja, na prática, a expectativa é de que o novo status sanitário traga reflexos positivos diretos no volume de exportações. No caso da bovinocultura de corte, essa perspectiva deve impulsionar uma realidade que já vem em expansão. De 2000 para cá, as vendas externas aumentaram mais de 450%: saltaram de 356 mil para 2 milhões de toneladas.
"Estamos perto de realizar um projeto que começou na década de 1970. Muitos produtores, cooperativas e empresários não têm ideia do impacto que [o novo status] vai trazer. A palavra de ordem é sustentabilidade. Quem não tiver sanidade, quem não tiver sustentabilidade, vai ter dificuldade. Nós não teremos dificuldades, porque estamos seguros, graças a esse caminho que foi consolidado ao longo de décadas", completa Meneguette. (Foto: Embrapa)