O duo desastroso
J. J. Duran
As consequências do abandono e da irresponsabilidade no trato da pandemia no Brasil ficaram ainda mais visíveis no desastre sanitário ocorrido em Manaus e que está se espalhando por várias partes do Brasil, incluindo o Paraná e a nossa Cascavel.
O governo federal não se entende com a maioria dos estados, em uma demonstração de completa miopia sobre a inter-relação que deve prevalecer em toda e qualquer nação federativa, isso tudo fruto do enfrentamento entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Dória por conta dos projetos políticos de ambos.
Faltam ações coordenadas para enfrentar o vírus, que tem matado diariamente mais de mil brasileiros e deixado profundas cicatrizes nas suas famílias.
Bolsonaro, com seu negacionismo, segue anunciando medidas cuja ineficácia prolonga a letargia do seu ministro da Saúde, que é um militar competente, mas pouco entende sobre a saúde.
Ao invés de se espelhar em países que estão enfrentando a pandemia com eficiência, o governo prefere gastar suas energias contra a imprensa, que chama genericamente de "canalha", ignorando o fato de que enquanto uma parte dela desenvolve uma clara perseguição ao governo, outra bem maior cumpre corretamente seu papel de mostrar o retrato real e cruel do que está sofrendo o povo brasileiro e que poderia estar sendo minimizado não fosse a incapacidade de governantes inquilinos das diferentes esferas do poder.
É difícil compreender que o poder central, onde estão brilhantes militares hoje na reserva, não tenha um gabinete de coordenação eficaz, com o planejamento logístico necessário para um tempo de guerra como o que estamos vivendo no campo sanitário.
Miguel Nicolelis, conceituadíssimo professor brasileiro da Duke University dos EUA e tido como um dos maiores neurocientistas do mundo, fez a seguinte declaração a um colega argentino que o entrevistou recentemente:"Se o Brasil não decretar o fechamento total de suas fronteiras e a suspensão das atividades não essenciais por duas ou três semanas, os coveiros não darão conta de enterrar todos os mortos". Salvo engano, estamos muito próximos desse momento, se é que ele já não chegou.
Parece-me que o governo, apesar de ter no seu gabinete grandes estrategistas, está cego e surdo diante de uma realidade de verdadeiro horror. O robusto general que comanda o Ministério da Saúde segue pedindo paciência e ignorando que cresce avassaladoramente a parcela da população que está se tornando órfã da esperança.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná