Show de impostura: quando é fofo dizer mal da pátria...
Renato Sant'Ana
Imaginem os Rolling Stones no Brasil, cantando para um Maracanã lotado de fãs. Aí, Mick Jagger, tendo um surto, interrompe o show para acusar a Família Real Inglesa de fazer fortuna com o tráfico de drogas.
É pura ficção, frise-se. Contudo, se chegasse a ocorrer, a maioria dos fãs acreditaria em Mick Jagger. E haveria uns quantos que até usariam as redes sociais para "viralizar"a injustiça de uma calúnia.
É o fenômeno da falsa legitimidade do estrangeiro que, por mais cínico e ignorante que seja, é ouvido como autoridade ao falar mal de seu país.
O ser humano médio não pensa. Na infância, acredita nos pais (estejam certos ou errados). Pela vida afora, sem questionar suas próprias convicções, dá crédito a quem lhe parece fofo: é o autoengano de adotar "crenças"alheias como se fossem "pensamentos"próprios.
Tal fraqueza é útil ao populismo (de direita e de esquerda), que costuma forjar e disseminar crenças para fazer a cabeça dos medíocres.
E é o que a esquerda executa sem nenhum pudor, quando, em âmbito internacional, propaga mentiras sobre o Brasil para ocultar a corrupção que governos petistas sistematizaram, tudo para pavimentar o caminho da implantação de uma ditadura socialista no país.
Um exemplo recente, escabroso e útil a esta análise é o do ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal, que publicou um panfleto numa revista de circulação internacional para atacar o governo.
Autorreferente e com dicção juvenil, o texto não parece lavrado por um acadêmico. Mas tem astúcia para tirar proveito da profusão de gaiatices que Jair Bolsonaro pronuncia cada vez que fala em público.
O primeiro ardil é intitular o manifesto como "SOS Brasil: ataques à ciência"e, assim, desde logo, incutir na mente de eventuais leitores a falsa ideia de existir no país uma cruzada contra os homens de ciência, forjando um contexto para um montão de informações descontextualizadas.
Depois, ele se declara "cientista"(sic), afirma que a situação da pandemia no Brasil é das mais graves, transcreve uns quantos disparates de Bolsonaro (alguns bem simplórios) e costura os retalhos de modo a enfiar na cabeça do leitor que tudo é culpa do presidente.
"Como cientista, eu costumo não acreditar em coincidências", diz ele para ligar os números da pandemia à figura de Bolsonaro.
Com nenhum senso de ridículo (normal para um socialista), ele joga as informações sem demonstrar nexo com sua tese acusatória.
É o caso de citar que o Twitter discriminou uma publicação do ministério da saúde do Brasil como "disseminação de notícias enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à COVID-19", atribuindo ele à "galera"do Twitter uma idoneidade que é totalmente falsa.
Decente seria repudiar o que Twitter e Facebook fazem ao censurar postagens (inclusive de médicos) que não se alinham com a facção que usa a pandemia como pano de fundo para uma predatória guerra ideológica.
Outro ardil é o do vitimismo: "Eu nunca imaginei que seria o próximo", diz, pleiteando sua credencial de vítima.
"Sou o investigador principal do EPICOVID-19, o maior estudo
epidemiológico sobre COVID-19 no Brasil", diz ele: é um introito para a sua farsa do "bonzinho perseguido".
"(...) durante uma entrevista de rádio, fui criticado por um deputado e por um jornalista (...)", queixa-se ele. E The Lancet, revista que se pretende científica (e que já deu vexame durante a pandemia) presta-se a divulgar a solene patacoada do ex-reitor.
Não vale a pena esmiuçar o panfleto, que mais parece escrito por um guri de grêmio estudantil do que por um professor universitário. Mas não é possível ignorar a irresponsabilidade com que ele procede.
O pretenso cientista estabelece proporções numéricas entre população do Brasil e do mundo e de vítimas locais e internacionais para concluir que, na data de 21/01/2021, "156.582 vidas foram perdidas por causa do mau desempenho brasileiro no enfrentamento da pandemia". Vamos ver.
A questão, aqui, não é examinar erros e acertos no enfrentamento da crise e respectivos autores. Nem, muito menos, justificar nada. O que se quer, de fato, é desmascarar a manipulação maliciosa dos números.
E o meio apto é comparar índices per capita de infectados, de óbitos e de curados, apontando a real posição do Brasil. Tomem-se números do Worldometer em 10/02/2021, panorama em que se deu o blefe do ex-reitor.
Infectados: segundo esses números, o Brasil tem 45 casos por mil habitantes, sendo o 35º lugar na lista de infectados per capita, situação bem melhor que EUA (84 casos por mil habitantes), Israel (77), Portugal (76), Espanha (65), Bélgica (62), Suíça (62), Suécia (59), Reino Unido (58) e França (52), por exemplo.
Óbitos: o Brasil está em 27º lugar, com 1096 por milhão de habitantes, situação melhor que todos os países acima citados, exceto Israel.
Apesar dos "secadores", o Brasil ultrapassou a marca de 8,5 milhões de curados - mérito para nossos bravos profissionais de saúde.
Ora, não há o que comemorar. Mas há o que repudiar!
Como pode Hallal, um professor de educação física, que, no doutorado, estudou epidemiologia, lidar com estatística de modo tão leviano?
Não é leviandade. É, isto sim, malícia de um militante socialista.
Seu intuito é produzir um factoide útil para a esquerda, que, desde o início da pandemia, tenta colar em Bolsonaro o rótulo de genocida.
Qualquer cidadão pode, sim, criticar o destempero de Bolsonaro. Mas não é crítica o que faz Hallal. Ele investe em desinformação, seguindo uma estratégia bem calculada, articulado com seus coleguinhas mundo afora.
Para o bem e para o mal, professores do mundo inteiro estão em rede. E é nesse cenário que o "estrangeiro maltratado"está a falar mal da pátria.
E dá resultado. A U.S. Network for Democracy in Brazil, uma "rede"de acadêmicos e ativistas brasileiros no exterior(leia-se "estudantes"que nós custeamos) teve o engenho de preparar um "dossiê"a ser entregue a Joe Biden, o novo presidente dos Estados Unidos. Para quê?
Querem que Biden retire o apoio atual que os EUA dão ao ingresso do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e questione a participação do nosso país no G7 e G20 enquanto Bolsonaro for presidente. E o Brasil que se exploda!
O dossiê é assinado por professores de dez universidades, nove delas nos Estados Unidos, e por diretores de algumas ONGs internacionais.
Não, os parasitas não atacam Bolsonaro por seus muitos defeitos. Eles se insurgem contra a descontinuidade do projeto de poder engendrado pelo Foro de S. Paulo, conglomerado das esquerdas latino-americanas.
O plano, com a mãozinha da casta acadêmica, era espalhar ditaduras socialistas no continente. Mas o projeto travou com a revelação da corrupção do PT & associados e com o impeachment de Dilma Rousseff.
Pois o ex-reitor é uma síntese do modus operandi dessa casta, sem a qual, citando só dois exemplos de alta letalidade para a democracia, não haveria operadores do direito (em todos os órgãos) que desonram a melhor tradição jurídica nem jornalistas úteis à desinformação.
E aí está um flash do que há de pior em nosso país, uma casta acadêmica disposta a tudo por um projeto de poder, infamando o Brasil e degenerando a juventude para o fim de formar palermas para o socialismo.
Essa casta acadêmica é fiadora do nosso atraso e nos rouba o futuro. (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Renato Sant'Ana é advogado e psicólogo - sentinela.rs@uol.com.br