O prisioneiro mental
J. J. Duran
A pandemia que aflige o mundo inteiro neste momento é a mais desafiadora experiência enfrentada pelas lideranças políticas ao longo das últimas décadas. No Brasil, boa parte dos setores sociais invisíveis se tornaram dramaticamente presentes ao receber do poder governante as migalhas de ajuda que o Estado decidiu lhes outorgar. São tempos nos quais a realidade supera o oco palavreado político daqueles que propagaram em vão a reconciliação fraternal e ética.
A radicalização política sempre foi um câncer a corroer as esperanças de um eleitorado que, pela pouca cultura política que possui e pelas pregações de falsos super-heróis, se vê obrigado a conviver com premonições nada alentadoras para os anos que virão imediatamente a seguir.
Minha longa travessia pela indo América atormentada dos anos de 1970 me levou a identificar meus erros, iguais aos daqueles que combati, e a compreender que não será um governo reacionário, tampouco uma oposição sectária e intolerante, que irá encontrar o denominador comum para nos tirar da gravíssima situação em que vivemos.
Há que buscar nos caminhos que a Constituição e as instituições do Estado oferecem o ponto convergente dos interesses e pensamentos ideológicos opostos que hoje prognosticam um futuro de intemperança política.
Há que encontrar e colocar um limite para evitar que a atuação maniqueísta dos governantes extrapole seus deveres em nome da busca de uma hegemonia nada democrática.
Mas essa não é uma atribuição apenas de parte da classe política. As forças políticas situacionistas e oposicionistas têm o dever de prestar um serviço do mais alto patriotismo nos recintos sagrados do Parlamento para fazer dos canais naturais da democracia o centro amortecedor dos intentos dos grupos intransigentes e apaziguar eventuais resíduos do autoritarismo vigente no passado.
No caso específico do Brasil, não devem esquecer os bolsonaristas que o "Mito" chegou ao poder democraticamente. E mais: pisando nas cinzas de um socialismo corrupto e corruptor, que no início do seu tempo de domínio também teve grande força e adesão popular.
Nesses tempos em que, graças ao trabalho da ciência e dos cientistas, se pode ter uma esperança de sobrevida graças ao desenvolvimento de várias vacinas, o negacionismo não pode simplesmente cair no isolamento mental, onde o homem se torna prisioneiro de seus próprios erros.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná