Corrida ao abismo
J. J. Duran
Com histrionismo amador e autoritarismo destrutivo, o ex-presidente Donald Trump alimentou seus seguidores em uma espécie de corrida que quase levou a democracia norte-americana ao abismo.
A mediocridade política levou o magnata do espetáculo a acender o estopim da violência incrustada em muitos seguidores que ainda sonham com a selva intolerante e primitivista da supremacia branca.
A retórica do populismo da direita em nada se diferencia da praticada pela esquerda ideológica, que tentou colocar toda indo América na mira dos canhões de um socialismo inautêntico, totalmente alheio a seus postulados dogmáticos.
Triunfador no difícil mundo capitalista, onde o homem, como espécie, tem valor relativo no mercado, Trump é um analfabeto funcional com fortes desequilíbrios comportamentais. Mas não se pode desdenhar de seu poder de mobilização para convocar uma rebelião inimaginável nos melhores contos da ciência da ficção.
Trump mostrou os defeitos graves e quase primitivos que tem o cinematográfico FBI. Mostrou que a confiança na democracia americana foi colocada fora dos pedestais edificados pela propaganda sobre a liberdade dos direitos civis.
Muitas emendas sacramentadas por séculos no Capitólio rolaram pelo chão e foram pisoteadas por dementes seguidores de um presidente anticonstitucional e que ousaram se colocar contra a reprovação a esse mandato republicano manifestada nas urnas.
Nos tempos do radicalismo político vivido pela indo América, nos anos 70 do século passado, a luta se estabelecia entre a direita nacionalista e a esquerda literária e progressista. Mas neste tempo pandêmico do século XXI, parece que a luta pela primazia política-ideológica vai se estabelecer entre a democracia e o antissistema constitucional.
Todo poder exercido de forma excêntrica, autoritária, messiânica, pode se converter em pandemia política, pois não há vacina capaz de "imunizar" os radicais que insistem em seguir rumo ao abismo da liberdade. A ação do radicalismo ideológico é degradante, infecunda e esterilizante.
Quanto ao Brasil e o resto do mundo, não será neste momento em que estão sendo sacudidos por uma crise sanitária de proporções gigantescas, que haverão de seguir o caminho sinalizado pelo agora ex-presidente americano. Afinal, sobra no povo, especialmente nas mentes pensantes desassombradas de um passado sepulto nas páginas da História, o espírito de grandeza e coragem para tomar decisões desprovidas de inteligência. (Foto: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná