O ataque ao Capitólio
J. J. Duran
Cada um dos homens que constituem a sociedade de um país transfere a outro homem como ele, por meio do voto livre, parcela essencial de responsabilidade na condução da nação dentro dos ditames da lei e com a dignidade imposta pelo poder republicano.
Ao assumir essa responsabilidade, todo homem público deve se entregar ao destino maior de suas aspirações e cumprir fielmente o que estabelecem a Constituição e as instituições pilares da República.
O governante não deve pensar que o povo é uma entidade abstrata, que possa ser conduzida por caminhos de equívoco sinalizados pelo fanatismo ideológico ou pela demagogia bastarda.
A grandeza de um povo é medida pela fraternidade que ele pratica e que não pode ser confundida com manifestações patológicas do nacionalismo extremista impositivo, de forte conteúdo negacionista.
Nestes dias cruéis pelos quais transita a humanidade, vitimada pela mais atroz pandemia registrada na contemporaneidade, existem povos que têm consciência da sua força e do poder natural das instituições que podem sofrer intentos descabidos de controle e intimidação, porém jamais erguer-se nestes funestos momentos como forças temerosas em declínio moral.
Hoje em dia é mais difícil entregar aos cidadãos ferramentas de trabalho do que armá-los, e muito mais proveitoso levantar escolas e hospitais e criar fontes laborais que convocar o povo para fazer uma cruzada suicida em nome de uma falsa liberdade de expressão.
Neste momento conturbado, quando solitárias vozes com poder se elevam despreocupadas e delirantes para conclamar a violência, é bom lembrar as sábias palavras do francês André Malraux, um estudioso da política, quando disse que"morrem as liberdades, porém de suas cinzas nascem as forças que vão lutar por elas".
Não é o tempo do autoritarismo autocrático insano que alimenta a cultura da morte e da usurpação da verdade.
Como ansiosos sobreviventes da apocalíptica pandemia, vivemos um momento em que paz, fraternidade, inteligência e humildade são vocábulos vetores de um amanhã incerto.
O recente ataque ao Capitólio é uma página triste da história americana, que já descansa no túmulo da reprovação universal. (Imagem: Reprodução Twitter)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná