Sete pecados do poder governante (IV)
J. J. Duran
O sexto pecado cometido pelo poder governante, sempre que exercido pelo paternalismo da esquerda e pelo autoritarismo da direita conservadora, foi padronizar a mentira como conteúdo do discurso oficial.
A credibilidade de um governante é a base da liderança que este precisa mostrar aos governados, pois sem acreditar em seus líderes, o povo não irá segui-los.
A mentira começa quando o candidato promete soluções que jamais chegam. Uma vez no poder, com suas contínuas tolices discursivas o governante vai edificando sólido muro entre suas pretensões hegemônicas de liderança absoluta e sua falta de credibilidade junto àqueles que ainda pensam antes de falar.
Falsear a verdade foi algo um tanto mais discreto na política do passado, mas hoje em dia isso é usado como espinha dorsal do discurso. Mente-se de forma ostensiva, cínica, com um desejo de cruel alegria.
A mentira oficial é dirigida propositalmente a um núcleo fiel de seguidores cuja capacidade cultural os faz acreditar que as palavras do"apóstolo do bem"são dignas de crédito.
A continuidade do falso relato na boca do poderoso o leva a impor a si próprio a necessidade de não pensar ou dizer outra coisa que não seja sua versão mentirosa.
Os"apóstolos da mentira"fogem da realidade propositalmente para manter o discurso do tempo da campanha que os levou ao poder graças a uma estratégia criada premeditadamente para enganar o eleitorado.
O que poucos percebem a tempo é que detrás da mentira padronizada pelas diferentes correntes ideológicas está oculta a intenção de implantar o autoritarismo na sua forma clássica, em que a figura do governante vai se convertendo em mítica representação do que significa ter o poder.
Esses personagens funestos e autocratas carregam, de forma sempre oculta, seus interesses pessoais e suas desmedidas e tresloucadas ambições feudalistas, que só se manifestam depois que assumem.
Assim, suas mentiras transformadas em verdades absolutas passam a ser usadas como instrumento de imposição bíblica. Esquecem eles que na boca do mentiroso até a verdade ganha roupagem de mentira.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná