A política órfã de um ícone
Já houve um tempo em que o político era uma figura verdadeiramente de respeito, algo talvez inimaginável para os jovens de hoje em dia, produtos de uma geração que cresceu atormentada por uma sucessão interminável de escândalos que levaram a um desgaste sem precedentes da representação popular.
Parte de um passado que deixou saudades, essa foi a época de José Alencar Furtado (foto), um cearense de nascimento e paranaense por opção que começou a escrever sua história em nosso Estado como procurador jurídico da Prefeitura de Paranavaí, depois do que assumiu uma cadeira de deputado estadual como suplente antes de se eleger deputado federal, função na qual cumpriu três destacados mandatos.
Representante da chamada esquerda democrática - nada a ver com esta que dilapidou o País recentemente -, foi um dos fundadores do antigo PSB e depois uma das grandes expressões do velho MDB de guerra, pelo qual chegou a encabeçar um grupo emedebista dissidente e enfrentar o imbatível Ulysses Guimarães na disputa pela presidência da Câmara Federal.
Nem a cassação de seu segundo mandato pelo regime militar fez com que Furtado abdicasse de suas convicções e desistisse de seguir construindo uma carreira política exemplar. Anistiado pelo então presidente João Baptista Figueiredo, voltou à cena política conquistando seu último mandato e em 1986 submeteu-se ao crivo das urnas pela última vez enfrentando Alvaro Dias na disputa pelo Governo do Paraná.
Depois disso, ainda abalado pelo assassinato do filho e também deputado Heitor Alencar Furtado, ocorrido ainda em 1982, recolheu-se em Brasília e lá viveu até a última segunda-feira (11), quando faleceu aos 95 anos de idade. (Foto: Câmara dos Deputados)