Sete pecados do poder governante (III)
J. J. Duran
O quarto pecado cometido pelo poder governante é converter a Bíblia em seu vade-mécum político.
Sou católico apostólico romano praticante e, como bem diz meu compatriota Francisco, o Papa, jamais tive algo contra os seguidores de outras igrejas.
No Brasil e outros países os evangélicos, por exemplo, vêm cumprindo uma função social que a sociedade civil e o Estado não cumprem.
Mas como em toda igreja, existem os pastores abnegados pregadores da palavra bíblica, porém também existem oportunistas, que criam igrejas ou vivem fazendo citações da Bíblia para ganhar dinheiro ou entusiasmar seus seguidores ideológicos.
Os eleitores evangélicos, como crentes do ensinamento bíblico e fiéis expoentes da fé, são disputados a tapa em tempo eleitoral e lembrados sempre que as circunstâncias se mostram adversas aos interesses do poder.
Difícil ver como a democracia, apesar de ser o melhor regime de governo que existe, também permite pregações convertidas em chamativas demonstrações vindas do alto do poder governante.
Esquecem esses pregadores do Evangelho conservador autoritário que Deus está vendo o uso de seu nome em vão e que, por isso, receberão o castigo eterno.
O quinto pecado do poder governante é converter a excelência da representação recebida pelo voto na contenda eleitoral em parte quotidiana da gestão oficial misturada com o mexerico chegado desde o âmbito militar.
Um presidente chegado ao poder como símbolo emergente das cinzas deixadas por um modelo sociopolítico que levou ao colapso os valores éticos e republicanos exigidos pelo mandato democrático não pode fazer do poder habitação de seus compromissos familiares e ideológicos, pois confundir poder com paternalismo significa regressar ao passado.
No Brasil, pelo estágio alcançado, a democracia pode até sofrer uma eclipse, porém jamais entrará em colapso definitivo. A política é impiedosa com quem insiste em não ver assim. (Foto: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná