Memento mori
J. J. Duran
República e cidadania são indissociáveis. Elas se engrandecem ou se degradam juntas, tendo sempre o mesmo destino.
Não haverá, no Brasil, uma República sadia sem se refazer a mística da cidadania como origem do poder político do Estado, condição maior da existência dos direitos e da liberdade das pessoas, independente de riqueza, raça, sexo, credo ou ideologia.
Sejamos, nesta hora decisiva para a sobrevivência da humanidade, possuídos pela mística da nossa República para que, através dela, sejam moderados os conflitos, subprodutos da pequenez de entendimento entre governantes e governados.
A generosa inclinação dos brasileiros para a tolerância e o gesto fraternal vive e convive no coração de cada um que aqui chegou solitário e sem poder conter as lágrimas dolorosas do exílio.
Essa inclinação natural não significa debilidade de um povo, ao contrário, significa a força da sua alma e a solidez da sua razão.
O rigor e a violência são, muitas vezes, filhos da fraqueza e do temor. As páginas da História indo-americana estão cheias de casos trágicos que, não fosse a desconfiança e o medo, não teriam prevalecido por tanto tempo em trágicos confrontos fratricidas.
Após longeva e difícil travessia pelas sendas da indo-América, sabemos que a agressividade, o radicalismo e a intolerância vindos desde o poder não passam de outra forma de pânico individual ou coletivo.
Infelizmente, muitas repúblicas indo-americanas instaladas e confirmadas com prudência, saber e fraternidade passaram a conhecer longos períodos de obscurantismo democrático.
Festejemos a República e o fato de estarmos vivos em um tempo apocalíptico de pandemia. Alheio aos governantes circunstanciais e aos desencontros lógicos produzidos pelas diferentes concepções do cenário atual, o País vive pacificamente e se mantém distante dos desbordes dos intolerantes.
Ter uma coluna mensal de opinião em um espaço como este é um exercício que exige rigorosa disciplina e ter sempre, ao escrever, o pensamento dos monges:"Cada memento mori". Bem vindo 2021. (Imagem: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná