Coopavel Ano 45: o filho do Show Rural
Já considerada a maior feira do agronegócio da América Latina, a 27ª edição do Show Rural Coopavel transcorreu entre os dias 2 e 6 de fevereiro de 2015 com 480 expositores - uma centena de outros interessados ficaram de fora - e um público mais uma vez recorde, de 230.904 visitantes, com mais de quatro mil pessoas trabalhando no evento.
O número elevado de pessoas presentes ao parque da Coopavel não chegou a ser surpresa, já que bater recordes ficou normal no SR, mas os números dos valores negociados, acima dos R$ 2 bilhões, excederam com sobras a previsão de 1,4 bilhão, estabelecida frente às limitações da crise que já arruinava o Brasil.
Comparando o cenário do meio da década de 2010 com o fim da década de 1980, quando aconteceu o primeiro Show Rural, Dilvo Grolli recordou que a produtividade da soja em 1989 ficava entre 1,6 mil e 1,8 mil quilos por hectare:
"Hoje, as lavouras do Paraná estão entre 3,6 mil a 4,2 mil quilos. Isso representa um crescimento de mais de 100% em produtividade. Dentro do Show Rural Coopavel, os resultados das áreas de experimentos produzidos pelos expositores elevam para próximo de 5 mil quilos por hectares. E é essa diferença maior que vai para o campo a curto prazo. Já no milho tínhamos 3 mil quilos por hectare naquele ano e hoje a média da produtividade é de 9 mil quilos por hectare" (Revista SindiRural, 45).
Emater motivando
Sempre presente, o Instituto Emater do Paraná exibiu um elenco de projetos para aumentar a renda dos pequenos produtores do Paraná. Um setor que motivou grande interesse foi o cultivo de plantas medicinais, com mais de cinquenta espécies de aromáticas e condimentares.
"Nossa ideia aqui foi mostrar ao produtor, principalmente os pequenos, que o plantio dessas plantas é mais uma fonte de renda. Eles podem comercializar a produção para empresas de chá mate, de cosméticos, para mercados e floriculturas. Alguns já possuem até secadores, podendo vendê-las desidratadas, prontas para o chá" (Marcia Cristina Lawich, técnica agrícola da Emater).
Também motivador de interesse foi o sistema comercial de criação de tilápias desenvolvido para atender às particularidades da região Oeste.
"A Emater orienta o produtor desde a elaboração do projeto até a escolha da área, preferencialmente em terrenos firmes, qualidade da água, licenciamento ambiental, respeito ao distanciamento da Área de Preservação Permanente entre outras coisas" (Altair Luiz Jede, técnico agrícola).
Livro e software
Não faltou o lançamento de livros, caso de"Plantio Direto: A tecnologia que revolucionou a agricultura brasileira?, obra da Fundação Parque Tecnológico Itaipu em reconhecimento a três produtores paranaenses que se destacaram na difusão dessa técnica revolucionária no País: Herbert Bartz, de Rolândia; Nonô Pereira, de Ponta Grossa; e Franke Dijkstra, de Castro.
Com atrações sempre relevantes em tecnologia, a Embrapa Suínos e Aves de Concórdia (SC) apresentou o Salmonelômetro, software que ajuda a identificar os fatores de risco para a salmonella nas granjas de suínos.
Em 2015, o Show Rural Coopavel ganhou um filho. Logo depois da 27ª edição, em 13 de fevereiro, o secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara foi apresentado no Sindicato Rural ao projeto de realização do I Show Pecuário (foto).
Inspirado no Show Rural, o SP de imediato assegurou a participação do governo do Estado no futuro evento: "Fico feliz com a atitude, pois se não buscarmos eficácia na produção, não teremos resultados. Eu vejo hoje a pecuária de corte como a cadeia mais atrasada no Paraná. Ela pode melhorar muito".
Mais um sucesso
O presidente do Núcleo Regional de Criadores de Angus do Oeste do Paraná, Agassiz Linhares, que também se destacou à frente da Secretaria Municipal da Agricultura, definiu o Show Pecuário como um evento técnico para a apresentação das novas tecnologias, genética, equipamentos e novidades do setor, com informações aos produtores por meio de palestras abordando assuntos relevantes e de interesse para garantir audiência.
Entre os dias 14 e 16 de julho, promoção conjunta do Sindicato Rural e da Sociedade Rural do Oeste, o I Show Pecuário recebeu mais de dez mil pessoas no Parque de Exposições Celso Garcia Cidade atraídas pelas novidades, palestras, rodadas de negócios, leilões de animais e julgamentos das raças. Uma receita para fixar a promoção no calendário rural brasileiro.
Em agosto, o Programa Oeste em Desenvolvimento (POD) promovia o Fórum de Desenvolvimento Econômico do Território Oeste do Paraná. Destinado a promover o desenvolvimento sustentável da região, propõe estratégias para o desenvolvimento da região, de forma organizada e participativa, a partir de estudos técnicos para as cadeias produtivas do peixe, leite, frango, suíno e grãos, focando na infraestrutura e logística, aproveitamento energético, proteção ambiental e inovação.
Perturbações, fake bews e intrigas
Havia também perturbações, como a exploração do pedágio, a incapacidade do governo de entregar uma reforma agrária consensual e a imposição de um modelo econômico desconexo e autoritário, a duvidosa "nova matriz econômica", em meio a crescentes denúncias de corrupção, apesar de muitas fake news que as instituições na época ainda consideravam normais e não pensavam em combater.
Sem resolver os problemas pelo diálogo, de erro em erro a presidente Dilma Rousseff não conseguiu resistir às forças que armaram seu impeachment. A crise piorava com a desunião nacional que desmontava a estabilidade trazida pelo Plano Real do governo Itamar.
A polarização crescia e com ela a disseminação no ambiente urbano de noções infladas por fake news de que a vida difícil e poluída na cidade se devia ao campo, onde os produtores enriqueciam enquanto nas cidades a classe média se proletarizava.
Desunião cidade-campo
A necessidade de unir os ruralistas de um lado, e unir os esforços da cidade e do campo, de outro, estavam presentes nas reflexões dos especialistas e líderes políticos moderados.
"A atividade principal do agricultor é produzir grão. Ele não é um poluidor: deixa 20% do patrimônio dele para preservar o meio ambiente, coisa que ninguém faz no mundo. O lixo que é jogado na rua entope nossos canais de esgoto, acaba indo para os nossos rios e nós temos que limpar. Precisamos ter um convívio melhor, fazer com que o meio urbano entenda que ele só vai sobreviver se o agricultor puder produzir comida. Talvez pudéssemos dialogar mais, de uma maneira menos crítica e mais construtiva, entre o morador urbano e o rural" (Modesto Felix Daga, engenheiro agrônomo, diretor do SR e primeiro gerente da CrediCoopavel).
Apesar das tensões, 2015 foi marcante para a Coopavel por ganhar mais um prêmio, oferecido pela revista Amanhã, pela performance nas exportações de carne, e pelo monumento instalado na Praça Japão, em homenagem aos vinte anos de exportação de carne ao país oriental.
Impressionante, mas sem surpresas, a julgar pela qualidade do desempenho positivo e crescente, a Coopavel fechou o ano com um faturamento bem próximo de R$ 2 bilhões. (Leia amanhã: Dois shows e muitas turbulências)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!