Coopavel Ano 40: aposta foi investir no moinho de trigo
A 22ª edição do Show Rural Coopavel, entre os dias 8 e 12 de fevereiro de 2010, foi mais um sucesso, com 342 expositores e um público o de 180.768 visitantes. Nessa temporada, a Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia (SC), trazia ótimas soluções técnicas para uma variedade de situações, como captação e armazenamento da água da chuva, misturador de rações, incinerador de animais e recomendações para a prevenção da gripe A na suinocultura.
Após mais de duas décadas de realização, o Show Rural cumpria fielmente seu objetivo de difundir tecnologias voltadas ao aumento de produtividade de pequenas, médias e grandes propriedades rurais.
Nesse período, a produtividade das principais culturas da região, soja, milho, feijão e leite cresceu mais de 100% na média regional.
A soja rendia cerca de 1.800 kg por hectare, passando em 2010 a 3.400 kg, com a promessa de um salto importante 4.600 kg por hectare no prazo de um ano. A produtividade do milho, de 3.800 kg, evoluiu para média de 9.000 kg/hectare, com potencial para chegar a 12.000 kg/hectare, sugerido pelos experimentos apresentados.
Paulo Orso, o pós-Menegatti
Além das novidades e soluções, havia algo mais no ar, a ser comemorado ao longo de todo o ano. Em 2010, a Coopavel comemorava 40 anos de atividades e o"bolo"da festa foram os investimentos em um moinho de trigo próprio: um montante de R$ 33 milhões fariam realidade o moinho com capacidade para processar 400 toneladas de trigo por dia.
Não que a época fosse fácil: a crise mundial que eclodiu nos EUA em 2008 fazia estragos pelo mundo e o governo brasileiro continuava insistindo que o Brasil só sentiria uma "marolinha", na verdade o prenúncio de uma década de sérios desajustes que arrastaram a presidente Dilma Rousseff ao impeachment.
Em 24 de maio de 2010 ocorre uma inflexão importante no ruralismo cascavelense. A posse do engenheiro agrônomo Paulo Roberto Orso na presidência do Sindicato Rural de Cascavel encerrava duas décadas de gestão de Nelson Menegatti.
A diferença central entre os dois é que Menegatti vinha de uma família de industriais e era contabilista antes de vir a Cascavel. Aqui, na indústria madeireira, passou a administrar empresas e só tardiamente passou a lidar com a agropecuária.
Por sua vez, Paulo Orso se formou focado na vivência rural. Formou sua liderança no conhecimento do setor e na observação de cada área de atuação para criar um todo harmônico e funcional.
Logo de saída, encontrou a situação de conflito e ameaças de mais violência no campo, entre radicais ruralistas e os movimentos de agricultores sem-terras, que disfarçaram o fracasso do lulismo no trato da Reforma Agrária com um provocativo Abril Vermelho.
Peças de uma só máquina
Diante da perspectiva de mais violência em 2010, a nova diretoria do SR, agora sob o comando de Paulo Orso, manifestou sua oposição aos interesses de líderes que se atritavam agressivamente sem a intenção de apresentar uma solução negociada e justa para todos.
Incomodava, sobretudo, a intenção de criar inimizades e dissenções entre pequenos, médios e grandes produtores e, igualmente péssimo, antagonizar violentamente a agricultura familiar com o agronegócio exportador.
"A agropecuária brasileira não pode ser dividida. Ela é, na sua essência, uma só. E a mesma concepção prevalece em relação aos demais segmentos a ela vinculados. Todos são, genuinamente, peças de uma única máquina, poderosa e valiosa - o agronegócio, que produz alimentos e gera empregos, renda, impostos, receitas externas e tecnologia" (Revista SindiRural, nº 18, outubro/2010, editorial).
O predomínio dessa compreensão corrigiu os defeitos do ruralismo excludente, levando as lideranças a focar em resultados e na qualificação dos familiares dos associados aos sindicatos e cooperativas, apresentando perspectivas para suas famílias. Neste sentido, foi decisivo o salto de cursos desenvolvidos pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e da Unicoop (Universidade Corporativa da Coopavel).
Os pontos de atrito legítimos, como o trabalho intenso nos frigoríficos e demandas salariais, não ficariam mais na gritaria e exibição de armas: deslocaram-se em definitivo para a mediação sindical e a Justiça.
Baixo carbono, uma boa ideia
Em 2010 o governo federal criou o Programa de Agricultura de Baixo Carbono, fornecendo recursos e incentivos aos produtores rurais que adotassem técnicas agrícolas sustentáveis. Neutralizando ou reduzindo a emissão dos gases do efeito estufa (gás carbônico, gás metano e óxido nitroso), o produtor viabilizaria em melhores condições uma produção agrícola e agropecuária mais qualificada, garantindo mais renda para a família, mais alimentos para a população e alinhamento com a necessidade de proteção ambiental.
Ex-presidente da Coopavel, Ibrahim Faiad utilizou o programa de financiamento do Programa ABC para um novo biodigestor, motor para geração de energia quase autossuficiente, "um conforto para o animal, pois fornecermos o melhor para nossas vacas, assim as mesmas retribuem em leite de qualidade e longevidade" (Revista SindiRural, 30, oubro/2012).
Vitória do valor agregado
Ao completar 40 anos de fundação em 15 de dezembro de 2010, a Coopavel estava colocada entre as 400 maiores empresas brasileiras e era a 82ª no ranking das organizações do setor do agronegócio no País, com clientes em mais de 40 países e um faturamento que nesse ano alcançou 954,7 milhões de reais, a um passo do bilhão.
Com mais de 3 mil associados e 4.221 funcionários, 24 unidades de recebimento de grãos e revenda de insumos em 17 municípios do Oeste e Sudoeste, a Coopavel contava com 11 unidades industriais (a 12ª em construção) e processava 75% dos produtos que recebe.
Para o diretor-presidente Dilvo Grolli, "esses são alguns números que indicam a dimensão da Coopavel e traduzem a força realizadora dos produtores rurais da sua área de ação",
A fórmula do sucesso da Coopavel foi agregar valores integrando seis cadeias produtivas, dos insumos e fertilizantes às carnes e leite, segundo Dilvo Grolli: "O valor agregado representa seis vezes mais do que o do produto in natura. Todo esse movimento econômico fica na cadeia produtiva, começando pelo produtor de milho e soja, que tem mercado garantido. E abre oportunidade para outros trabalharem com avicultura, suinocultura e bovinocultura de leite e corte". A sétima cadeia de produção será a do trigo, com a construção de moinho. (Leia amanhã: Cursos criam condições para novos avanços)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!