Coopavel Ano 37: biodiesel emplacou, PAC gorou
Um dia antes do encerramento da 19ª edição do Show Rural Coopavel, em 8 de fevereiro de 2007, completava-se a duplicação dos 35 quilômetros da BR-467 entre Cascavel e Toledo (foto), conquista em que o peso dos ruralistas foi decisivo.
O SRC transcorreu entre 5 e 9 de fevereiro, com 290 expositores e a recepção de 143.207 visitantes. O destaque do ano foi o biodiesel, uma das prioridades do governo Lula. Houve na feira um espaço exclusivo para o biodiesel, no qual empresas, pesquisadores e consultores fizeram apresentações sobre as culturas apropriadas à produção de biodiesel e quais as tecnologias que devem ser empregada para cultivá-las.
Na onda do biodiesel, o vereador Aderbal de Holleben Mello propôs, com emenda de Jadir de Mattos e sanção do prefeito Lísias Tomé, a lei 4525, de 30 de março de 2007, instituindo no Município de Cascavel o Programa para a Produção e Comercialização de Biocombustível Derivado de Biomassa Renovável (Biodiesel), para, dentre outras intenções, "apoiar a produção e comercialização de Biodiesel, em especial pelos produtores rurais familiar e empresarial, visando a geração de energia renovável, emprego, renda e inclusão social".
Foco no crescimento
A prioridade para o diesel de origem vegetal era boa, mas o governo errava a mão em outro fator, de extrema importância para os ruralistas: permitir a cartelização do setor de fertilizantes, que resultava no "cavalar aumento (em volume e principalmente em custos) do percentual de importações desses insumos" (jornal O Paraná, editorial, 26/6/2008).
Dilvo Grolli havia dito, em pronunciamento na Expovel de 2007, que o Brasil teria de fazer um esforço importante para enfrentar as necessidades de consumo de uma população mundial de 7,7 bilhões de pessoas em 2025.
Para o presidente da Coopavel, a produção de grãos e de carnes precisará crescer 42% nos próximos 18 anos, mas a agropecuária nacional enfrentava problemas que também afetavam outros setores da economia, como o preço do óleo diesel, "combustível indispensável para tocar máquinas e tecnologias fundamentais para elevar a produtividade no campo".
Grolli pôs o dedo na ferida ao apontar que o preço do litro de óleo diesel subiu 400% de 1996 a 2007, de R$ 0,36 para R$ 1,80, enquanto a inflação no período foi de 67%.
Tecnópolis engasgou
Uma grande ideia do engenheiro Mário Bracht, presidente da Fundetec, foi apresentada à sociedade cascavelense em agosto: o projeto Cascavel Tecnópolis.
Aproveitaria a própria localização do Parque Tecnológico, a dez quilômetros do trevo da BR-277, e seria a ponta de lança de num entorno compreendendo, além do parque, a estação ferroviária, o Show Rural e o distrito industrial pioneiro onde também se encontra a Coopavel, o Autódromo Internacional e o acesso à área turística rural de Juvinópolis, dentre outras disponibilidades potencialmente capazes de gerar riquezas para Cascavel e sua região.
A Tecnópolis seria"uma nova Cascavel que se projeta por um eixo ao redor de 50 km² através de um projeto de desenvolvimento integrado?, formando, mais que um portal estilizado para receber os visitantes, "também um foco irradiador de produtos e um polo de oportunidades em torno de empreendimentos, empregos e negócios" (jornal O Paraná, editorial, 23.8.2007).
Mercosul funcionou
Depois de um desencanto inicial, na segunda metade da década havia mais confiança nas possibilidades do Mercosul por conta dos resultados obtidos pelos esforços dos produtores, na forma de crescentes indicadores da vitalidade do comércio exterior cascavelense.
"Em 2007, a região batia a marca de US$ 1 bilhão em volume de exportações - grãos, cortes de frango, adubos, óleo de soja e ovos de galinha para incubação, silos, secadores, móveis, ônibus, ferro fundido e lubrificantes. É uma economia madura, na qual o agronegócio participa como fator de indução, estímulo e multiplicação"(Sindicato Rural de Cascavel, Uma História de Paz, Produção e Progresso).
O assunto do ano no Brasil foi o Programa de Aceleração do Crescimento, mais um coelho tirado da cartola do populismo lulista. O próprio Lula havia dito que jamais faria algo parecido, mas seu staff precisava arranjar uma promessa midiática para lhe permitir eleger o sucessor - que viria a ser Dilma Rousseff, a ministra encarregada de pisar o pé no acelerador.
PAC, precisão, aquecimento
O PAC foi recebido com reservas pelos agropecuaristas cascavelenses. "O presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, aproveitou o algarismo predileto do atual governo - zero - para afirmar que é exatamente isso que o Programa de Aceleração do Crescimento vai trazer ao campo" (jornal O Paraná, editorial, 2/2007).
Mesmo assim houve avanços favoráveis ao setor produtivo. O Ministério da Agricultura, com o apoio de especialistas do setor, criou o Comitê Brasileiro de Agricultura de Precisão, que ainda passaria por uma longa maturação até ser oficializado.
A inovação tecnológica permitiu aprimorar o mapeamento da variabilidade do solo, plantas e outros parâmetros, resultando na precisão: uma aplicação otimizada de insumos, diminuindo custos e impactos ambientais negativos, aumentando assim o retorno econômico, social e ambiental.
Além da precisão, o grande debate da época era o aquecimento global. A perspectiva de perder muitos bilhões de reais no campo em função de variações climáticas preocupavam os produtores. As emissões de gases para o efeito estufa preocupavam de um lado, enquanto de outro os negacionistas minimizavam o problema. As afirmações e as negações duelaram por uma década até o temor prevalecer e resultar no Acordo de Paris, assinado em Nova York em 2016. (Leia amanhã: Parada Paz no Campo rejeita a violência)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!