A década do setentismo
J. J. Duran
Há muito nossa geração, a dos anos 70 do século passado, começou a edificar as bases do atual fracasso universal. A vacina que o mundo mais necessita neste momento é compreender e usar o vocábulo"verdade".
Muitos ainda precisam olhar sem visão tendenciosa para perceber o que foi o sofrimento das repúblicas indo-americanas naquela década fratricida.
Há muitos que procuram, de forma alucinada, recriar o setentismo dos dissidentes políticos, preferindo acreditar nas falsas e fantasiosas histórias escritas pelos que não viveram aquele tempo e, portanto, não são testemunhas confiáveis da história.
Aquele tempo, pelo menos na cinza Buenos Aires, foi marcado por ações arbitrárias e insanas e que levaram ao derramamento do sangue de muitos inocentes.
A verdade daqueles anos 70, quando dezenas de milhares de argentinos simplesmente desapareceram, não está com aqueles que, por ignorância ou afã deformador da verdade, seguem insistindo em reabrir o fosso que separou estupidamente os indo-americanos em bandos irreconciliáveis.
A versão idealizada do setentismo se esgotou com o passar dos anos, mas quem viveu aquele tempo tem consciência plena de que muitos tombaram mortos em lutas tresnoitadas que poderiam e deveriam ter sido evitadas.
Há que se ver através do vidro escurecido pelo passar de meio século cheio de transformações que a parte escura daquele tempo fratricida da violência generalizada deve ser lembrada em silêncio, com o respeito que merecem todos, e não apenas os de um só lado.
Basta de informações distorcidas extraídas de livros que enriqueceram oportunistas e que não foram atores daquele tempo cruel. Basta de inverdades. Basta de acender fogueiras para iluminar um tempo que está sepultado na história.
Vivamos irmanados todos aqueles que têm a boa vontade de não remexer no passado e seus fantasmas surgidos na neblina mental dos estupidamente incorretos. (Foto: Wikipédia)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná