Coopavel Ano 24: Plano Real, âncora verde e dívidas na mesa
O Dia de Campo/Show Rural da Coopavel ainda em 1994 esteve limitado sobretudo à participação de produtores da região Oeste, mas houve novamente um grande salto em relação ao ano anterior. Amplificou-se a divulgação da importância do evento, que teve a presença de 58 empresas e 2.500 visitantes. Assim, era previsível que no ano seguinte o SRC já começasse a sua tradição de mostra nacional.
Os ruralistas aprendem com a experiência e sabem que em ano eleitoral as forças que pressionam tendem a conseguir conquistas concretas, mas também são alvejadas por promessas que jamais serão cumpridas caso até o dia das eleições as providências anunciadas não se concretizem.
O mês de fevereiro de 1994 foi de muita efervescência em Cascavel e no Brasil. No fim do mês, medida provisória do presidente Itamar Franco instituía o Plano Real. O pacote federal apanhava os agricultores cascavelenses às voltas com o endividamento vindo do Plano Collor Rural e situações climáticas e conjunturais adversas.
Atividade de risco, o produtor rural está sempre com o coração na mão diante dos rigores do clima, ação e omissão do governo, quadro que muda como nuvens e obriga uma atenção diuturna e lutas incessantes.
A transição Requião-Pereira
O Plano Real apresentou dificuldades adicionais a quem já estava apertado, mas permitiu o aumento da renda, com a organização mais eficiente das finanças das famílias e empresas. Essa nova realidade se traduziu em maior procura pelos produtos do agro.
As dificuldades que os produtores tiveram no período foram consideradas uma "contribuição". A agropecuária era festejada como a "âncora verde" que assegurou o sucesso do Plano Real por aumentar a produção, abastecer o mercado interno, elevar as exportações, acumular ganhos de produtividade e financiar estruturas competitivas.
Na época da edição do Plano Real, as entidades mais representativas da sociedade cascavelense elaboravam uma lista de pedidos a fazer ao futuro governador Mário Pereira, que assumiria a chefia do Estado assim que o governador Riberto Requião formalizasse sua candidatura ao Senado, em dois meses.
Para governar por nove meses, Pereira teria que sacrificar sua carreira política, abrindo mão de uma vaga madura na Câmara Federal. Aproveitou seu prestígio no governo, à frente da Secretaria dos Transportes, para uma intervenção restauradora na BR-467.
Enquanto Mário fazia, o astuto Requião prometia, anunciando a construção do segundo trecho da Ferroeste, ligando Cascavel a Guaíra. As obras deveriam ter início em julho desse mesmo ano, quando já não estaria no governo. Deixava a pressão nas costas do governo Mário Pereira.
O crime toma conta
Com a Coopavel reerguida da crise que quase a destruiu nos tenebrosos anos 1980, os cooperados se concentravam em investir em seu plano estratégico. A grande preocupação na cidade agora era a segurança pública. Máfias e crime organizado se expandiam, até se infiltrando descaradamente nas polícias.
Lançada em 7 de março com a participação de diversas entidades comunitárias da cidade e do campo, a campanha "Cascavel com Segurança" denunciava que o Município estava tomado pelo crime com participação e acobertamento de policiais.
Além da explosão de furtos e roubos, ficaram insolúveis, por omissão da polícia, casos como o desaparecimento de um avião e de produtos agrícolas em cooperativas e empresas comerciais.
Um documento com reivindicações foi apresentado ao governo Roberto Requião, que já preparava a campanha para o Senado. Ao receber o apelo, Requião demitiu numa só canetada toda a cúpula e a equipe de agentes da Polícia Civil em Cascavel. Essa firme resposta e a passagem do governo às mãos de Mário Pereira lhe asseguraram apoio do Oeste a futuras candidaturas.
Cria-se uma economia global
Ruralista e também presidente da Acic, José Filippon delineou as necessidades dos setores produtivos cascavelenses para o futuro imediato: "Neste momento histórico, quando uma economia global vai se configurando diante de nossos olhos, o desenvolvimento das empresas dependerá, como nunca, da busca de mercados no exterior".
Na avicultura fortalecida, na bovinocultura em alta e na agricultura crescentemente tecnificada, o cooperativismo havia estabelecido com a agroindústria uma ampla rede que aparece como um fio costurando a economia em geral.
Ligava-se de várias formas ao fazer da grande maioria das famílias e empresas, por meio de relações intersetoriais da área agroalimentar com a fabricação de máquinas agrícolas (metalmecânica), fertilizantes (química), defensivos agrícolas (farmacêutica) e calcário (metais não ferrosos) - "e os segmentos consumidores (comércio, supermercados, hotéis e restaurantes) e de transporte dos produtos agroindustriais (transporte rodoviário e ferroviário)" (Sérgio Fajardo, Territorialidades corporativas no rural paranaense).
O marco da Coopavel em 1994 foi a construção do frigorífico de aves, com capacidade de abate de 144 mil aves dia. A obra exigiu investimento de R$ 50 milhões, provenientes de recursos próprios da cooperativa. (Leia amanhã: Escapando do Efeito Tequila)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!