Coopavel Ano 23: o ministro Vieira e a diversificação pecuária
Quando se deu a explosão imobiliária trazida pela exportação de soja, os sítios e fazendinhas ao redor de Cascavel foram transformados em loteamentos e rapidamente em bairros. No entanto, os colonos que ali viviam cultivavam tradições familiares e mantiveram seus hábitos, dentre os quais abater reses, aves e suínos na propriedade para alimentar a família e vender o excedente, como faziam seus pais e avós.
Até os anos 1970, nos fins de semana e vésperas de festas era comum, ouvir o lancinante guincho de um porco sendo abatido a poucas quadras do centro da cidade. Com a urbanização e a concorrência dos estabelecimentos autorizados, as autoridades foram chamadas a intensificar a fiscalização exigindo que as práticas coloniais se adequassem às rígidas regras sanitárias exigidas para a exportação.
Sendo a autoridade também exercida por filhos de colonos e sitiantes, muitas vezes faziam vistas grossas. A Vigilância Sanitária da Prefeitura de Cascavel., vinculada às secretarias municipais da Saúde e da Agricultura, informava que cerca de 75% da carne consumida no Município era de origem clandestina, "abatida em açougues ou em locais inadequados para esta atividade" (Jornal O Paraná, 11/04/1993).
Tempo para adequar
Na sociedade, pedia-se tolerância, advertência e regularização progressiva, porque, segundo o jornal, "por aqui a regra básica é a universalização do abate clandestino".
"Chegamos, nesse momento, a uma situação tal que bons provedores de carne foram estimulados a fazer o abastecimento do produto sem fiscalização e agora são considerados criminosos e agentes de transmissão de doenças como a cisticercose. É correta, neste sentido, tanto a formação de abatedouros municipais quanto o estímulo aos abatedouros privados a legalizar sua produção"(O Paraná, editorial, 2/6/1993).
Com a disseminação das campanhas de regularização começou uma nova etapa para a pecuária, a caminho de uma ampla diversificação. Em junho de 1993 a Secretaria de Estado da Agricultura criou o Programa de Expansão da Ovinocultura e entregou, com a Secretaria Municipal da Agricultura, 200 ovelhas da raça Corriedale, importadas do Uruguai, a duas dezenas de produtores.
Em novembro, uma reunião de pecuaristas em Sede Alvorada dava início à Associação Regional dos Criadores de Bovinos das Raças Leiteiras do Oeste do Paraná (Rural Leite).
Alinhamento de fatores
O endividamento é sempre um risco para o produtor rural, seja pelos rigores do clima ou por ação e omissão do governo. É uma situação que obriga o ruralista a uma atenção diuturna e a lutas intermitentes.
Sofrendo a herança maldita do Plano Collor Rural, os produtores decidiram dedicar 90% de seu tempo à produção e 10% à política. Descuidar da defesa da classe seria como esquecer de dar ração aos animais. Essa visão da realidade levou os ruralistas brasileiros a criar a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
Aprimorar toda a gama de serviços necessários aos cooperados era também um dos objetivos permanentes da cooperativa. Em junho de 1993, a Credivel, criada em 1981 para facilitar as movimentações financeiras dos cooperados, teve o nome alterado para Credicoopavel (Cooperativa de Crédito Rural Coopavel).
O ano de 1993, dessa forma, foi considerado importante para o desenvolvimento agropecuário cascavelense pelo alinhamento de vários fatores. Dentre eles, a eleição do banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira ao Senado, em 1990, que teve o decidido apoio da comunidade ruralista cascavelense e apresentaria em breve importantes desdobramentos.
A ligação de Vieira com Faiad
Em 1991, Andrade Vieira foi um dos primeiros líderes políticos a pedir o impeachment do presidente Fernando Collor. O novo presidente, Itamar Franco, chamou Andrade Vieira para assumir o Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, em setembro de 1992, e em seguida para o Ministério da Agricultura.
Sua ascensão foi comemorada entre os associados à Coopavel por ter um grande potencial de apoio às demandas da região. Vieira conhecia bem o Oeste do Paraná e suas necessidades. Havia trabalhado no banco de seu pai, Avelino Vieira, em Foz do Iguaçu.
O presidente da Coopavel, Ibrahim Faiad, também havia começado sua ascensão profissional no banco da família Vieira. E foi também proveniente de Foz do Iguaçu que Faiad veio para Cascavel, onde fez o Bamerindus se destacar, granjeando respeito junto aos agropecuaristas e comerciantes.
O que fez de 1993 um ano marcante foi também o desenvolvimento do Show Rural. Era a arrancada sem interrupções que levaria a promoção se consagrar como um dos grandes eventos do setor. Na edição deste ano, houve a participação de 47 empresas e o público dobrou em relação a 1992: 1.200 visitantes. (Leia amanhã: Plano Real, "âncora verde" e dívidas na mesa)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!