Coopavel Ano 22: apostas erradas e estratégias certas
Com seu estilo sóbrio e objetivo, Ibrahim Faiad assumiu em 11 de março de 1992 a presidência da Coopavel por mais um triênio, com Dilvo Grolli também mantido na vice-presidência.
Com tarefas importantes a cumprir, o vice-presidente da Coopavel é um também um executivo e não só um elemento à parte aguardando eventualmente assumir a presidência.
Depois de participar ativamente da salvação e posterior recuperação da Coopavel, os dois lideraram a cooperativa na década de 1990 rumo a uma dupla arrancada.
A primeira, a opção inequívoca pela agroindustrialização, aproveitando uma tendência que era também uma vocação e consenso na sociedade cascavelense. Partia de investimentos planificados para compor uma cadeia envolvendo a agregação de valor e a transformação da proteína vegetal em proteína animal, transitando por toda a gama de negócios que essa opção representa.
A segunda arrancada seria o Show Rural. O ano de 1992 foi o último em que o tradicional Dia de Campo se dirigiu exclusivamente aos associados da Coopavel. Voltava-se já de imediato aos produtores da região, registrando a participação de 40 empresas e o comparecimento de 600 visitantes, o triplo do público do Dia de Campo de 1991.
Sempre tentando o melhor
Apesar das apostas firmes e certeiras, os ruralistas também se deixavam convencer por propostas que envolviam batalhas perdidas.
Sempre em busca de soluções duradoras que nunca chegavam, os ruralistas após o fim da ditadura se animaram com o Mercosul. Supunham também que um presidente eleito pelo voto direto iria respeitar as demandas da sociedade, especialmente do campo, que a todos alimenta, mas foram surpreendidos pelo impacto do Plano Collor Rural, que levou muitos agricultores a afundar em dívidas.
O movimento pró-criação do Estado do Iguaçu também caiu nas graças dos agropecuaristas. Seus ativistas pretendiam realizar um plebiscito na região do antigo Território Federal do Iguaçu para construir a nova unidade da Federação.
Sustentada pelo advogado Edi Siliprandi, a pregação vinha desde 1968, quando a ditadura se instalou sem disfarces e reprimiu duramente seus adeptos. Com a democratização, desde 1985 aproveitavam o debate sobre a nova Constituição para unir as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina em torno da criação de um Estado que não dependeria mais de Curitiba e Florianópolis para gerir seu rico território.
Estado nasceria forte
A ideia de criar um Estado detentor de duas das forças mais poderosas do país - seu forte agronegócio e a usina de Itaipu - faria a nova unidade da Federação nascer rica e promissora. Não precisaria mais, como dizia a propaganda do Iguaçu, pagar um boi em tributos e receber de volta um bife em serviços públicos.
Com o novo Estado, o boi ficaria na região e dele viriam todos os bifes. O discurso, bem ao jeito agropecuário, pegou. Se houvesse plebiscito, o Estado do Iguaçu nasceria.
Para tentar conter o rastilho de pólvora aceso pelo movimento pelo Estado do Iguaçu, no final de junho o governo do Paraná assinava convênio com o Exército Nacional. A finalidade era destravar as obras da Ferrovia Paraná-Oeste, uma das mais importantes exigências do agronegócio desde o boom exportador iniciado nos anos 1970.
Em contraofensiva, em 7 de julho de 1992 vários líderes agropecuaristas, comerciantes e industriais compareceram à sede da Acic para apoiar a fundação da Associação Municipal Pró-Iguaçu (Amiguaçu).
A entidade nasceu forte: reunia muitos dos políticos mais influentes da região, inclusive o ex-prefeito Fidelcino Tolentino, candidato a suceder o prefeito Salazar Barreiros, de quem já havia sido o antecessor.
Grande parte dos líderes da Acic e da Sociedade Rural também compunham o comitê principal da entidade, mas o governo do Estado não se manteve indiferente.
Batalhões do Exército em ação
Com grande campanha midiática, o 2º Batalhão Ferroviário de Araguari (MG), que jamais havia aparecido na grande imprensa com tanto destaque, era filmado e fotografado iniciando as obras da Ferroeste, em 10 de julho.
Os soldados mobilizando as máquinas para iniciar sua contribuição histórica recordavam o Exército dos tempos da Estrada Estratégica. Era como que uma tropa de paz avançando resolutamente contra a campanha pró-Estado do Iguaçu.
Na verdade, foram só preparativos. As obras só começaram de fato em agosto, para dar apoio aos candidatos do PMDB às prefeituras.
A manobra deu resultado, mas depois das eleições os ativistas do Iguaçu continuaram apostando que o novo Estado teria a gerência do agronegócio oestino, com capital teórica em Cascavel.
Se houvesse plebiscito, a região responderia maciçamente com um Sim, mas a tentativa de inserir a consulta plebiscitária na Constituição foi bloqueada pela ação preventiva dos governos do Paraná e Santa Catarina, que abortaram o trâmite a proposta.
Assim, mais uma vez uma proposta cativante em que os ruralistas cascavelenses ancoravam suas esperanças se frustrou. Um dos mais decididos adversários do Estado do Iguaçu, aliás, foi um parlamentar que sempre mereceu a confiança dos ruralistas: o ex-deputado Mário Pereira, agora vice-governador e futuro governador do Paraná. Argumentava que era preciso o Paraná unido para não perder sua força.
Fertilizando o futuro
No final de 1992, em meio a desavenças inconciliáveis com o PMDB, Salazar Barreiros completava seu primeiro mandato à frente da Prefeitura. Ele voltaria quatro anos depois a chefiar o Município, já fora do PMDB, que nas eleições de 1992 reelegeu Fidelcino Tolentino, com quem os ruralistas se afinavam.
Para a Coopavel, apesar das costumeiras encrencas políticas, a época definiu a largada para seu projeto de diversificação, cuja base era a proposta agregar valor aos produtos agrícolas dos cooperados.
Com seus gestores de visão, a Coopavel traçou um plano estratégico, segundo o vice-presidente Dilvo Grolli, com foco na produção de aves e bovinos, além da expansão das áreas de suínos e leite:
"Com o crescimento dos negócios, detectamos a necessidade de agregar valor aos grãos e fortalecer a parte de insumos com uma indústria própria de fertilizantes, inaugurada em 1992" (Entrevista a Béth Mélo, revista AgroRevenda, set/out 2012).
A indústria, com capacidade inicial para produzir 20 toneladas por hora em até 16 formulações diferentes, foi uma das várias conquistas que ao longo das próximas décadas confirmaria a plena viabilidade do plano elaborado e sua correta aplicação. (Leia amanhã: O ministro Vieira e a diversificação pecuária)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!