A eleição de Biden é ruim para Bolsonaro mas boa para o Brasil
Luiz Claudio Romanelli
A vitória democrata é boa para o Brasil ou nada muda nas relações entre os dois países?
Acredito que a eleição de Joe Biden pode ser uma notícia ruim para Bolsonaro mas é boa para o Brasil.
Desde que foi eleito, Bolsonaro alinhou-se incondicionalmente a Trump. Jamais escondeu sua admiração pelo presidente norte-americano e adotou e apoiou, sem qualquer questionamento, as posições políticas e ideológicas de Trump. Na política externa, voltamos a ser quintal dos americanos.
Trump e Bolsonaro têm muito em comum. Ambos negam o aquecimento global, subestimam a pandemia do coronavírus, desrespeitam direitos das minorias e desdenham direitos humanos, criticam a China e veem a "ameaça" comunista em cada esquina.
Com a vitória de Biden essa pauta ideológica e política se esvai. Ruim para Bolsonaro, bom para o Brasil.
Na campanha eleitoral norte-americana, Bolsonaro e seus filhos agiram como líderes de torcida de Trump. A tal ponto que a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos EUA emitiu uma mensagem pedindo que a família do presidente brasileiro não interferisse na campanha norte-americana.
Obviamente que esses movimentos não passaram despercebidos por Biden e pelos democratas- que não nutrem nenhuma simpatia por Bolsonaro, seja por suas posições negacionistas em relação a temas como o aquecimento global e as queimadas na Amazônia, seja pela apologia a torturadores e o desrespeito aos direitos humanos. Ruim para Bolsonaro.
Biden provavelmente num primeiro momento vai dar um gelo em Bolsonaro e pode, inclusive, hostilizá-lo, como já fez na campanha, quando no debate com Trump. Na ocasião, ele afirmou que a comunidade internacional daria US$ 20 bilhões ao Brasil para o país não queimar mais a Amazônia. "E se não parar vai enfrentar consequências econômicas significativas", disse.
A questão ambiental e o desmatamento na Amazônia serão, certamente, os pontos mais sensíveis na relação entre os dois países.
Para Welber Barral, estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest e ex-secretário de Comércio Exterior entre 2007 e 2011, com Biden na presidência os Estados Unidos irão se aproximar da União Europeia. "Com isso, haverá um alinhamento dos países em torno da pauta ambiental", afirmou, em reportagem da IstoÉ dinheiro. Bom para o Brasil.
Ruim para Bolsonaro.
O governo brasileiro estará disposto a sofrer sanções econômicas internacionais e ainda mais repúdio da comunidade europeia caso se recuse a conter o desmatamento da Amazônia?
A eleição de Biden pode ser a oportunidade para que o Brasil consolide o fundo internacional para o desenvolvimento sustentável para a Amazônia e volte a ter o respeito da comunidade internacional. Bom para o Brasil.
Independente da antipatia ou mesmo da ojeriza de Biden por Bolsonaro, o agora eleito presidente norte-americano é um homem pragmático que reconhece a importância do Brasil como um parceiro estratégico na América Latina.
Em seus quatro anos de mandato Trump limitou-se a expulsar imigrantes ilegais e a reforçar o controle de fronteiras e visitou apenas uma vez a América do Sul, em 2018, no encontro do G-20 em Buenos Aires.
Já Biden, durante o período em que foi vice-presidente de Barack Obama, visitou os países da América Latina 16 vezes em oito anos, incluindo o Brasil.
Aqui, em 2014, entregou para a presidenta Dilma Rousseff um material contendo 43 documentos detalhando informações sobre tortura e assassinatos durante a ditadura militar. Foi um ato de forte simbolismo, já que os EUA colaboraram para o golpe de 64 e respaldaram os governos militares e Dilma foi presa e torturada pela ditadura.
A vitória de Biden, acredito, não deverá trazer consequências imediatas nas relações comerciais entre EUA e Brasil. Os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial do Brasil e um aumento dos negócios bilaterais vai depender mais da dinâmica da recuperação da economia e da diversificação da pauta de exportação do que necessariamente da política do próximo governo.
Alguns temas podem esfriar, como a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Mas o fundamental, neste momento, é que Bolsonaro aja com civilidade e cortesia e desenvolva uma relação amigável com o presidente norte-americano, para manter uma relação amistosa, cordial e ponderada. Será bom para Bolsonaro e bom para o Brasil.
Luiz Claudio Romanel é advogado especialista em gestão urbana, deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná