Coopavel Ano 13: finanças em colapso e politização
19 de fevereiro de 1983. Depois de uma desmoralizante derrota nas urnas em 1982 e em desespero para não cair por si mesma, a ditadura impôs mais um sacrifício aos brasileiros, determinando a maxidesvalorização da moeda nacional - o Cruzeiro. A medida caiu sobre a Coopavel como um meteoro, pondo a cooperativa, apesar de uma década de crescimento constante e sólido, à beira da extinção.
O presidente Luiz Boschirolli, em declaração pública, disse que a política agrícola do governo para esse ano, traçada pelo Conselho Monetário Nacional, levaria a agricultura à falência. Mesmo com suas declarações pesadas, Boschirolli era acusado de ligações com a Arena, o partido que dava sustentação ao governo ditatorial.
O fracasso da ditadura favoreceu o crescimento da oposição política (MDB) e assim os opositores a Boschirolli na cooperativa o acusavam de esconder dos associados a verdadeira (e difícil) situação da Coopavel.
Não era verdade, pois o presidente da Coopavel nunca deixou de mencionar riscos, ameaças e consequências. No entanto, assuntos administrativos complexos, questões incidentais como o problema da informática e escolhas difíceis feitas no período é que ainda não haviam sido assimiladas pela média dos agricultores, a maioria já com bastante conhecimento técnico do seu negócio mas sem formação superior.
Uma cadeia de problemas
Confiando plenamente na gestão da empresa, mal podiam crer nas denúncias da oposição, segundo as quais o drama crítico da Coopavel começou ainda em 1981, com as gestões que levariam mais tarde à incorporação da Coopersabadi (Cooperativa Agrícola Mista Duovizinhense), composta de seis unidades no Sudoeste do Paraná e em Santa Catarina, abrangendo uma área de nove Municípios.
Teria sido um mau negócio, feito sob pressão do governador Ney Braga, que ao acumularam com prejuízos na área de comercialização de insumos em 1982 levaram a Coopavel à situação de dificuldade já sentida logo no início de 1983.
Com isso, a maxidesvalorização do Cruzeiro "foi de certa maneira o golpe de misericórdia para a entidade que amargurara prejuízos de vulto no ano anterior e que naquele exato momento de desventura devia nada mais, nada menos, do que 9,5 milhões de dólares a bancos particulares, fruto de empréstimos para cobrir as operações Coopersabadi e insumos"(revista Oeste nº 2, setembro 1985)
Numa canetada, o governo ditatorial somou a essa conta um prejuízo extra de 1,8 bilhão de cruzeiros."O quadro das nossas cooperativas, em particular da agropecuária, como um todo, é sombrio, sem querermos ser pessimistas. Basta que sejam mantidas as atuais taxas de juros", dizia o presidente Boschirolli.
Juros, geadas, seca, inundação
Como se não bastasse o esvaziamento do campo e a situação de penúria se avizinhando para os deserdados da terra, em maio vieram as chuvas, causando mortes e desabrigando milhares de pessoas.
Em 1º de junho de 1983 os ruralistas começaram a preparar de uma grande concentração de agricultores que se realizaria no dia seguinte na Associação Atlética Comercial. Protesto de uma grande concentração de produtores do Oeste unia agricultores com e sem terra para protestar contra a desastrosa política econômica e agrícola do governo ditatorial, conforme mostra a foto ilustrativa deste texto, feita por Xico Tebaldi.
Em 2 de julho de 1983 Cascavel parava para apoiar um tratoraço. A aversão ao governo chegava ao máximo. Mais chuvas e inundações em vários pontos do Paraná também viriam para abalar seriamente os negócios rurais.
Em 30 de setembro, o presidente do Sindicato Rural, Wilson Carlos Kuhn criticava a "geada" dos juros agrícolas da ditadura: "Agricultores entregam máquinas e equipamentos para pagarem os financiamentos". (Leia amanhã: Rumores, atritos e um acúmulo de prejuízos)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!