Coopavel Ano 12: conquistas, lutas e um desastre informático
O respeito conquistado pelo movimento ruralista lhe valeu a inclusão, em 24 de fevereiro de 1982, na comissão especial designada pelo diretor da Fecivel (futura Unioeste), Luiz Gonzaga de Andrada, para transformar a faculdade municipal em fundação universitária. Representou a Coopavel na comissão o professor Rubens de Oliveira Kern, que logo viria a ser importante autoridade em Jaguarão (RS).
Os agricultores estavam representados em todos os setores. Na Acic, por exemplo, à medida que a indústria madeireira cedia espaço crescia a influência do segmento agropecuário motivando a criação de uma Secretaria da Agricultura interna.
Expressão importante dessa tendência da Acic foi a eleição do presidente Rubens Carlos Buschmann, cuja holding (Soloquímica) tinha seis fazendas. A entidade tinha perfeita noção de que o agronegócio era o carro-chefe da região e contribuiu para a unificação de esforços para pressionar o governo, que ameaçava um desastroso racionamento geral de óleo diesel, que seria fatal para a agricultura.
Só fila de cumprimentos
Para contentar os agricultores, o próprio presidente da República, general João Figueiredo (1918-1999), veio a Cascavel para lançar em Cascavel um projeto de agrovilas e eletrificação rural, mas não deixou boa impressão.
"Quisemos entregar um manifesto ao general, mas o pessoal do protocolo não permitiu. Sugeri publicar a nossa reivindicação no jornal, para o presidente ler. No outro dia ele convocou os presidentes da cooperativa e do Sindicato a comparecer ao aeroporto, onde ele ia embarcar. Todos se prepararam para o evento, de terno e gravata. Chegando lá, nos colocaram em fila dupla. Aí ele cumprimentou um por um, não falou nada e embarcou" (Milton Pedro Lago, Uma História de Paz, Produção e Progresso).
Mesmo não trazendo as respostas que os agricultores esperavam, o episódio fez a região notar que seus gritos de alerta já começavam a ser escutados em Brasília e os protestos não cessaram.
Eduardo Sciarra, também com ligações ruralistas, assumiu a Acic em maio de 1982 com uma diretoria que incluía uma vice-presidência, equivalente à Secretaria da Agricultura, tendo à frente o líder cooperativista Luiz Boschirolli, presidente da Coopavel.
Foi justamente em maio que Boschirolli comandou a entrada em operação da fábrica de rações da Coopavel no Distrito Industrial. Tudo parecia ir muito bem para o movimento ruralista, mas havia armadilhas e obstáculos à frente.
Pré-história da informática
O governo federal apostou na desunião do movimento e um episódio ligado à própria modernização e desenvolvimento tecnológico em curso na época, ainda em estágio primário, causou um problema cujos desdobramentos se combinaram, com a crise nacional e levaram a cooperativa a ser o teatro de disputas internas que acabaram resvalando para o partidarismo.
Com a obsolescência de antigos computadores, foram trocados por um IBM de ponta programado pela empresa de processamento de dados da Cotrijuí, cujo pacote de programas não correspondeu.
"Aí foi um Deus-nos-acuda. Não se sabia mais quanto a empresa tinha para receber, quanto para pagar, ou quanto possuía de estoque. Sabia-se apenas que os programas do computador estavam bichados e que dali não sairia nenhuma informação coerente. Todo o imenso controle administrativo virara um mar de bagunça. Esse foi seguramente um dos fatores que retardou uma decisão do quadro dirigente sobre o que fazer diante da grave crise financeira que minava as entranhas da cooperativa e que, mais dia, menos dia, acabaria estourando - vindo a público - como de fato aconteceu" (Revista Oeste, nº 2, setembro de 1985).
Ferrovia da Soja, simulação eleitoral
Logo após o inverno, a campanha eleitoral de 1982 começou com o anúncio do inicio das obras da Ferrovia da Soja, exigência número um dos ruralistas. Era uma forma de avisar que a pressão da sociedade fora aceita pelo poder e que a Ferrovia da Soja seria finalmente construída.
A simulação do início das obras da ferrovia, em Guarapuava, não conseguiram evitar o mal estar que viria da deprimente situação nacional, agravada na região primeiro por chuvas excessivas e depois pela forte seca.
Por essa época, despontavam na liderança dos movimentos reivindicatórios os primos Antônio Dionízio Bosquirolli (Sindicato Rural) e Luiz Boschirolli (Coopavel). "O convênio de mútua cooperação entre o Sindicato e a Coopavel era para proteger a cooperativa das reivindicações políticas, usando o Sindicato para isso. Como o presidente da Coopavel e o do Sindicato eram Bos[qui/chi]rolli, começou a dar confusão. Então foi eleito como presidente do Sindicato o dr. Wilson Carlos Kuhn, que era assessor jurídico da Coopavel"(Milton Pedro Lago).
Kuhn, da Coopavel para o Sindicato
Wilson Carlos Kuhn, que veio para a região em 15 de maio de 1958, já havia sido assessor jurídico da Coopavel e Cotriguaçu, ligando-se ao SR por um convênio associativista, firmado entre o cooperativismo e o sindicalismo.
Kuhn assumiu bombardeando o governo, responsabilizando-o pela situação crítica da agropecuária nacional. O presidente da Coopavel, Luiz Boschirolli, também bateu firme no governo ditatorial. Frisou que o setor da agricultura e pecuária é o de maior importância para o País e, no entanto, "é o mais pobre, é o menos amparado e é o mais exigido".
Faz-se necessário, disse o dirigente cooperativista, "tratar o produtor rural com mais dignidade, considerar o seu verdadeiro valor para a sociedade e para o País e chamá-lo a participar das discussões que determinam os rumos da agricultura".
A Coopavel comemorou o ano de 1982 pela inauguração da Unidade de Beneficiamento de Sementes e de sua filial em Sede Alvorada, mas a desunião do campo e a crise geral do país logo iriam abalar o universo rural cascavelense. (Leia amanhã: Finanças em colapso e politização)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!