Coopavel Ano 10: vitórias deram estrutura para enfrentar a grave crise
Os primeiros meses de 1980 foram de intensa luta entre os ruralistas e o governo ditatorial. O sentimento dominante era de que o governo pretendia custear a crescente dívida externa confiscando os ganhos da produção rural.
Mais de 15 mil agricultores, integrando delegações provenientes de diversas cidades da região, arregimentadas pelos respectivos sindicatos rurais, reuniram-se em março, em Cascavel, para planejar um ataque unificado.
Formam um Núcleo Regional pronto a tomar"medidas drásticas e práticas"se o governo mantivesse o confisco - um imposto sem cabimento sobre as exportações de soja e derivados. Uma das propostas de rebelião aberta contra o governo seria paralisar totalmente a comercialização da soja.
Além do confisco, a ameaça de racionamento de combustíveis pairava sobre o meio rural. Prefeituras, associações comerciais e sindicatos de proprietários e trabalhadores rurais enviaram ao Ministério da Agricultura e ao Conselho Nacional do Petróleo um sinal de alerta: os agricultores não podiam ficar sem abastecimento, prestes a iniciar a colheita da maior safra de soja da história e sendo em seguida necessário trabalhar o solo para o plantio do trigo.
Enfim o governo cedeu
Como se não bastasse, havia indefinição sobre o preço básico do trigo para a próxima safra. O ministro do Planejamento, Delfim Neto, foi avisado de que a definição deveria ser imediata, sob pena de "graves reflexos socioeconômicos que fatalmente se abaterão sobre a nossa região".
Na linha de frente, o presidente da Coopavel, Luiz Boschirolli, dirigiu-se aos governos federal e estadual alertando que a área de plantio do trigo iria cair pela metade de um total anterior de 542 mil hectares na região Oeste sem providências para corrigir esse problema.
Os ruralistas cascavelenses acusavam o governo de prejudicar os produtores e beneficiar as multinacionais. O confisco rotulado de impostos de exportação achatava o mercado da soja enquanto o grão estava na mão do produtor. Quando estava nas mãos das multinacionais, o imposto era retirado, dando lucros fantásticos a quem não produziu.
A pressão intensa e combinada funcionou. Em 1.º de abril acontecia a primeira grande vitória popular contra a ditadura, com a queda do pernicioso imposto de exportação que prejudicava gravemente a agricultura brasileira. A velha lição de que a união faz a força mais uma vez comprovou sua eficácia.
Pecuária em alta
Na primeira metade da década de 1980 haveria um crescimento notável das atividades pecuárias, mas em 1980 os suinocultores se mantinham mobilizados contra a liquidação do rebanho suíno do Oeste a pretexto de uma peste suína africana que não se comprovou na região.
Queixando-se da matança diária - até fuzilamentos - de suínos nas fazendas, afirmavam sua decisão de se manter na atividade mas exigiam soluções.
O gado de leite e a avicultura, sempre mantendo a vigilância e a pressão, conseguiram evoluir rapidamente. A criação de frangos nas propriedades rurais e chácaras com pequenos aviários e matadouros movimentava a economia com diversificação: venda de rações, pintos de um dia, medicamentos veterinários, equipamentos e instalações .
Na base desse desenvolvimento, sob a presidência de Francisco Sciarra, a Sociedade Rural do Oeste nascia em agosto de 1980 e se empenhava de imediato pela construção do Parque de Exposições Celso Garcia Cid, assinalando um período de arrancada forte para a pecuária. Um significativo aumento no número de cabeças do gado bovino nessa época respondia aos os investimentos realizados, motivando a promoção da 1ª Exposição-Feira Agropecuária e Industrial do Oeste do Paraná (Expoeste).
Ressurge a Expovel
Realizada em 12 de dezembro de 1980 na Fazenda Mocotó, de Roberto Wypych, na BR-467 (rodovia Cascavel-Toledo), Km 26, tinha nessa primeira edição o objetivo leiloar animais doados por agropecuaristas da região para arrecadar fundos destinados à construção de um futuro parque de exposições, leilões e eventos.
A Expoeste retomava a boa ideia, embora desperdiçada por desorganização, da Expovel de 1975. Como teve sucesso em 1980, resgatou o nome Expovel e em anos futuros passou a uma sequência de sucessos que apagaram as más impressões do passado.
O balanço favorável de 1980 depois de um 1979 repleto de problemas e tragédias era motivo de comemorações pelos ruralistas. Um de seus pontos mais positivos foi a Assembleia Geral Extraordinária em que os associados da Coopavel maciçamente aprovaram a aquisição do Frigorífico Iguaçu (Friguaçu) por 793 votos a favor, apenas 20 contra e cinco nulos. Com capacidade para abate de 350 suínos/dia e 50 bovinos, por conta da crise vinha operando com menos de 25% do potencial.
A decisão representava um investimento de 50 milhões de cruzeiros, em operação já previamente aprovada pelo Banco do Brasil. Os associados da Coopavel também aprovaram a compra de 29 alqueires, às margens da BR-277, parte do Distrito Industrial.
Como a decisão dos agropecuaristas foi responder à crise com trabalho, a Coopavel deu sua resposta iniciando em dezembro de 1980 sua estrutura para a produção de rações, laticínios e beneficiamento do milho, partindo de vez para a agroindustrialização.
Os três frigoríficos
O projeto constava da construção de três frigoríficos. O de aves iria abater 140 mil aves/ano. Seriam agregados a ele 400 produtores rurais que pudessem produzir frangos para a Coopavel. O frigorífico de suínos faria o abate de até 3 mil animais ao dia. Seriam agregados a ele 400 produtores. Para completar, o frigorífico de bovinos, incumbido de abater 200 animais por dia.
"O conjunto destes três frigoríficos foi um projeto caro. Os recursos investidos foram na ordem de mais de cento e cinquenta milhões de reais em investimento, em valores atuais. A visão da Coopavel era que não só pudesse gerar renda aos produtores rurais e à cooperativa: ela teria atividades de abate e comercialização e os produtores rurais teriam a responsabilidade de produzir a carne para estes frigoríficos. Atendeu primeiro ao produtor rural, dando a ele uma grande oportunidade de produzir a carne e com isso ter mais um ganho no campo, e à Coopavel a oportunidade de gerar, além de emprego na área urbana, impostos onde a Coopavel tem suas filiais, fazendo com que esse projeto fomentasse o valor agregado na produção" (Dilvo Grolli).
Uma série de vitórias que dariam força estrutural para superar a grave crise que se aproximava. (Leia amanhã: O ano da grande união)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!