Servidor público é outro papo
"Talvez a maior falha que cometemos na Constituinte de 1988 foi aprovar a estabilidade no serviço público", cofessou-me tempos atrás, em conversa informal, o deputado federal Rubens Bueno, sugerindo que esse fato dividiu a sociedade brasileira em duas: uma formada pelo funcionalismo concursado de todos os níveis e outra pelos trabalhadores da iniciativa privada.
É bem verdade que os servidores tiveram que abrir mão do FGTS, mas em troca disso receberam a garantia do emprego e do salário correspondente, enquanto milhões trabalhadores privados foram parar no olho da rua durante a pandemia e, em muitos casos, não estão podendo fazer o saque emergencial do referido Fundo pelo simples fato de seus patrões não terem depositado o que deviam.
Isso me veio à lembrança por conta de dois acontecimentos das últimas horas e que ajudam a corroborar a tese cada dia mais fortalecida de que a estabilidade gerou dois mundos distintos e antagônicos entre si para os trabalhadores brasileiros.
Em Curitiba, centenas de professores fizeram uma manifestação no Centro Cívico em protesto contra o congelamento de salários e promoções, a realização de prova para contratações via PSS e a implantação de colégios cívico-militares. Foram encorajados para tanto por uma iniciativa do Ministério Público Estadual pela suspensão da programa do Estado de implantar um sistema que ajude a devolver a condição necessária para que os professores voltem a frequentar as escolas estritamente para ensinar e os alunos estritamente para aprender.
Já em Brasília, uma pesquisa realizada pela Escola Nacional de Administração Pública em parceria com Banco Mundial e Ministério da Fazenda revelou que 45% dos servidores públicos (federais em sua grande maioria) querem ter o direito ao trabalho remoto mesmo depois de debelada a pandemia.
Que ninguém se surpreenda com isso tudo, pois em um País onde sobejam direitos, não sobra espaço para o cumprimento dos deveres de todo cidadão, seja ele barnabé ou não. (Foto: Marcelo Camargo/AGBR)