Coopavel Ano 8: fortes abalos, firme resistência
O ano de 1978 abriu com uma violenta seca e quebra de 71% na lavoura de arroz, algodão (41%), soja (30%), rami (25%) e café (20%). Apenas para a soja, segundo o Departamento de Economia Rural do Estado, um prejuízo de 280 milhões de dólares: de uma previsão inicial de 5,5 milhões de toneladas, o Paraná iria colher apenas 1,5 milhão.
A maior seca em três décadas forçou a Copel a paralisar 21 usinas e ameaçar com o racionamento de energia. Deu-se uma cadeia de prejuízos, em que o rigor climático se juntava às perversidades do governo ditatorial. No final de fevereiro o Frigorífico Iguaçu, de Euclydes Formighieri, com abates diários de mais de cem cabeças de gado, pedia concordata preventiva.
Com um patrimônio de 40 milhões de cruzeiros, suas dívidas montavam a 25 milhões. A desestruturação da tradicional empresa cascavelense se deu por repetidos aumentos nos preços da matéria-prima, que liquidaram seu capital de giro. O caso parecia sem solução.
Em Cascavel desde 1957, Formighieri foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da qualidade dos rebanhos da região. Sua prova de fogo se deu em 1978, quando a terrível crise econômica que o País vivia abalou os negócios de seu Frigorífico Iguaçu, que em conjuntura mais favorável teria sido um fenômeno econômico, uma vez que já naquela época respondia por um abate diário superior a cem cabeças de gado.
O estranho caso da peste suína
Ainda aturdidos com as graves consequências da seca, os produtores foram tomados de surpresa com o anúncio do governo de que a Peste Suína Africana estava afetando parte do rebanho, embora sem comprovação de casos no Paraná.
De imediato veio a ordem superior: eliminar os animais, isolar as áreas de produção de suínos e a proibir a venda. Atribuiu-se a manobra à Agroceres Melhoramentos (Grupo Rockfeller) e ao grupo britânico Pig Improvement Company.
No campo, além de negar a contaminação, os suinocultores irritados acusavam as autoridades de inventar a PSA para empobrecer os produtores. Teoria da conspiração? Os produtores realmente empobreceram com a matança dos animais.
Teria havido uma articulação entre setores corrompidos do governo com empresas multinacionais para liquidar o rebanho suíno brasileiro e importar uma nova raça? Ou foi para começar a repor os animais doentes sacrificados que teve início a importação de matrizes fêmeas para expandir a produção?
Confisco põe o agro em pé de guerra
Explicações e negativas não conseguiam acalmar o campo. O líder ruralista Antônio Dionízio Bosquirolli exigia que a Embrapa anunciasse o destino de recursos no montante de US$ 66 milhões financiados pelo Bird para os setores de bovinos, suínos, soja, milho e cursos de pós-graduação.
Bosquirolli defendia pressão política total sobre o governo para evitar mais prejuízos aos homens do campo e reagir ao autoritarismo governamental verificado na questão do chamado Confisco da Soja.
O Ministério do Planejamento, chefiado por Delfim Netto, quis compensar as deficiências do governo em crise impondo um pesado imposto de exportação sobre a soja e seus derivados. Recebeu uma dura resposta dos ruralistas, que decidiram criar uma grande força política dentro e fora do governo para reagir às medidas negativas.
A descrença nos políticos foi resumida pelo agricultor Francisco Salvatti: "Os políticos não têm interesse pela agricultura. Não têm amor pelo agricultor. Fazem as coisas pela cidade porque aqui estão 80% dos votos. Nós temos 20%. Falam que gastam milhões com patrola, mas nós sabemos quanto uma patrola gasta de óleo diesel e quantas horas trabalha. A maioria só aproveita o cargo. Mas eles comem do que nós fazemos".
Resistir produzindo mais
Em clima de tragédia na economia, em junho de 1978 o secretário-geral da Prefeitura, Danilo Galafassi, foi assassinado. Havia medo nos casebres e nas mansões.
Os ruralistas decidiram apostar na política para enfrentar o governo, que colheria nas eleições de 1978 uma derrota desmoralizante. No interior do partido do governo, a Arena, também foram eleitos defensores dos interesses rurais. Roberto Wypych se elegeu como suplente na chapa do senador "biônico" Affonso Camargo Neto. Antônio Mazurek se elegeu para a Câmara Federal.
Na Coopavel, em 12 de março o vice-presidente Milton Lago foi substituído por Luiz Boschirolli. Com a necessidade de Roberto Wypych se dedicar às atividades políticas, Boschirolli no final de 1978 assumiu a Presidência da Coopavel, tendo Olivio Barzotto na vice-presidência.
Os ruralistas defendiam resistir à crise incrementando o desenvolvimento agrícola. A proposta era empreender um esforço conjunto entre a Secretaria Municipal da Agricultura, sindicatos e cooperativas.
Para ajudar, a Acic abriu uma Secretaria da Agricultura dentro da entidade, como uma de suas vice-presidências, enquanto pedia ao Banco do Brasil socorro aos suinocultores prejudicados pela suposta peste suína africana.
O Governo do Estado fez a sua parte: em 11 de novembro de 1978 era inaugurado o Núcleo Regional da Secretaria de Estado da Agricultura e o Laboratório de Análise de Solos. No mesmo ato, foi assinado contrato para iniciar a Ceasa. (Leia amanhã: Anos difíceis para Boschirolli)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!