Camaleões e a arte de enganar
Renato Sant'Ana
Os camaleões são répteis notáveis por mudarem de cor. Em sua pele há células que contêm nanocristais flutuantes, os quais refletem a luz em comprimentos de onda e cores conforme a posição e o espaço entre si: à medida que os cristais se reorganizam, altera-se a cor do animal.
É incrível, mas eles trocam a cor de propósito, ocultando a identidade para enganar adversários e para despistar predadores. Também o fazem para... conquistar: quando um camaleão pantera macho encontra uma fêmea, por exemplo, sua pele muda do verde para o amarelo.
É o maravilhoso espetáculo da natureza!
Nada de maravilhoso há, porém, quando, em defesa do autointeresse, humanos agem como camaleões, enganando para conquistar a confiança alheia: o que há é cinismo, malandragem egoísta e trapaça vulgar.
E é sabido que, no dito "mundo da política", o comportamento camaleônico está muito presente. Convém que nos perguntemos por quê.
Um dos mais repulsivos exemplos é o dos militantes de ideologias materialistas que se fazem passar por cristãos.
Lula propôs ao PT, como estratégia de retomar o poder, criar "núcleos evangélicos", ideia que lhe surgiu durante os 580 dias em que esteve preso por corrupção e teve tempo para ver pastores evangélicos na TV.
Foi em tom de deboche, falando a uma tal TV do Trabalhador, que Lula disse querer "entrar nessa". E que até tem "jeitão de pastor".
Neste 2020, o cinismo está solto. Em sua coluna, Cláudio Humberto registra: "Campanhas do PT Brasil afora evitam usar a tradicional simbologia partidária, como a estrela petista. Jilmar Tatto, em São Paulo, não evitou a cor vermelha, mas trocou a estrela por um coração".
A comunista Manuela d'Ávila, candidata à Prefeitura de Porto Alegre, além de adotar um discurso que esconde suas crenças materialistas e seu combate ao cristianismo, mudou a forma de vestir-se para ficar parecida com uma recatada mulher evangélica - puro marketing eleitoreiro.
Em 2018, Fernando Haddad e Manuela d'Ávila, em campanha eleitoral, foram a uma igreja católica, ouviram missa e fingiram rezar.
Mas talvez a melhor síntese da reptiliana ética da esquerda esteja na fala do então deputado petista Wadih Damous, em 2018, ao referir-se ao ministro Gilmar Mendes (STF): "O Gilmar hoje é nosso aliado, amanhã volta a ser o nosso inimigo, mas hoje ele é nosso aliado".
Como disse Lula, a esquerda "faz o diabo"para tomar o poder: dissimula intenções, muda a forma de se vestir, troca a cor da gravata, faz alianças de ocasião e fala só o que as pessoas querem ouvir.
É o fenômeno do mimetismo, pelo qual, para enganar adversários, certos animais, como camaleões (e alguns animais políticos), tomam a cor e a configuração dos objetos ou de outros seres do meio em que vivem.
Pois o mimetismo é o truque do momento na política. E só o é porque são muitas as pessoas de boa inclinação moral que se deixam iludir pelas aparências, gente que ignora a máxima de Schopenhauer: "Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa". (Foto: Pixabay)
Renato Sant'Ana é advogado e psicólogo - sentinela.rs@uol.com.br