Coopavel Ano 5: mecanização esvazia o campo e estende a cidade
Cascavel chegou à metade da década de 1970 completamente transformada depois do boom agrícola, da formação de um sistema cooperativista com a rara ocorrência de duas unidades no Município e a agricultura já solidificada como novo ciclo da economia regional.
O ciclo da madeira estava esgotado. Hylo Francisco Bresolin, presidente da Acic, relatou 1975 como um ano de desemprego na indústria madeireira, com o fechamento de muitas empresas. Era fácil ler a história da região em meados da década de 1970: o ciclo madeireiro se esgotava e a agricultura exibia uma ascensão irresistível.
O dinamismo da agricultura era tão espetacular que as cooperativas das regiões Oeste e Sudoeste - no primeiro movimento integrador das duas regiões - decidiram construir uma estrutura portuária em Paranaguá. Para isso, uniram-se no consórcio que viria redundar na Cooperativa Central Regional Iguaçu (Cotriguaçu), em dezembro.
O fim da Cascavel"cabocla?
De uma população que em 1960 somava cerca de 40 mil habitantes, pouco mais de 12% moravam na cidade. Em 1970, por conta da indústria madeireira e da prestação de serviços, a população urbana já somava quase 40% do total (35 mil de 90 mil habitantes), mas na passagem da década de 1970 para a de 1980 a população urbana passa a somar 124 mil (76%) de 163,5 mil habitantes.
Do ponto de vista demográfico, a Cascavel "cabocla", com população principalmente rural, era coisa do passado. Uma série de fatores, dentre os quais a mecanização agrícola e a concentração fundiária facilitada pelas culturas de exportação, modificaram drasticamente o perfil rural da região. Como consequência, cerca de 100 mil propriedades rurais com menos de 20 hectares desapareceram no Estado entre 1970 e 1980.
"Os pequenos proprietários passaram a arrendar suas terras aos grandes proprietários, fazendo com que a exploração que tradicionalmente se verificava se invertesse, no caso específico de Cascavel. (...) A pequena propriedade está atrelada à grande produção de soja, já que a cultura em grande escala utiliza tecnologia química e mecânica, que acaba por eliminá-la do processo produtivo" (professora Marionilde Brepohl, da Universidade Federal do Paraná, tese de mestrado Arrendantes e Arrendatários no Contexto da Soja 60-80).
A pior geada, mas preços ainda bons
Até o inverno de 1975 foi diferente. Na manhã de 18 de junho de 1975, a mais lesiva das geadas do século passado reduziu a zero a área cultivada com café no Paraná, mudando completamente o destino do Estado. Antes da geada, o Paraná havia colhido 10,2 milhões de sacas ? praticamente a metade da produção brasileira. Até o obstinado e persistente cafeicultor cascavelense sentiu o golpe.
Uma população disparando em número exigia serviços públicos aprimorados. Em 25 de setembro foram declarados de utilidade pública os terrenos a ser inundados pela construção do lago artificial.
Os agricultores também exigiam mais providências, do poder público e de sua própria capacidade de organização: as condições do mercado alteradas pela retomada dos elevados níveis da produção norte-americana de grãos e os gargalos infraestruturais.
Por uma combinação de fatores que incluíram quebras em outras regiões produtoras do mundo, os preços continuaram compensadores, mas havia perdas quanto à competitividade, por ser necessário pagar aluguel pela utilização do sistema de embarque do Porto de Paranaguá.
Megaempreendimento no Porto
A solução seria construir um terminal próprio. Com este objetivo as cooperativas de Cascavel, Toledo, Palotina, Marechal Cândido Rondon e Campo Mourão reuniram-se em condomínio e adquiriram uma área de terras junto ao porto.
Constituía-se, desta forma, um consórcio de cooperativas com vistas à exportação, elaborando um projeto para construir quatro armazéns graneleiros, cada qual com capacidade para 30 mil toneladas, perfazendo um total de 120 mil toneladas.
A este consórcio iriam se unir mais tarde as cooperativas de Medianeira, Capanema e Cafelândia. O projeto inicial foi desenvolvido com a assistência financeira do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul (BRDE), concretizando-se no Terminal Portuário de Paranaguá.
A Cooperativa Central Regional Iguaçu (Cotriguaçu), criada em 13 de dezembro de 1975, dá início a condições mais equilibradas de custos que farão muita diferença no futuro.
Um fracasso colateral
Nesse final de ano, para enaltecer a força da agropecuária cascavelense, foi organizada a primeira exposição-feira, já denominada Expovel. Iniciativa idealizada pelo vereador Ney Campos Góes e encampada pela Prefeitura Municipal, a Expovel teve shows artísticos, praça de alimentação e leilões, comercializando 740 cabeças de gado em área da Madeireira Sbaraini.
Problemas de gestão acusaram prejuízos para o Município, que a partir daí optou por apoiar, mas não promover exposições agropecuárias. A Expovel começou com dificuldades, mas forneceu práticas e propostas que depois levaram à organização política dos ruralistas.
A empresa Coopavel cuidava da economia, o Sindicato Rural representava politicamente a classe produtora e começavam as movimentações que iriam determinar a criação da Sociedade Rural do Oeste, que depois de um período sabático sanitário preparou o renascimento da Expovel em novas bases. (Leia amanhã: Na agenda, ferrovia e estrutura portuária)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!