Coopavel Ano 4: Wypych na cooperativa, transformações na cidade
Em abril de 1973 foi inaugurado o Autódromo de Cascavel, idealizado pelo empresário e piloto Zilmar Beux e apoiado maciçamente pelos agricultores. O episódio é revelador do espírito da época, em que a juventude relativa da população e a esportividade estavam ligadas diretamente com as atividades econômicas.
Um episódio curioso relacionado à mecanização agrícola e à paixão pelo automobilismo se deu quando o Autódromo já estava quase pronto.
Em pleno trabalho de acelerada construção do asfalto, que exigiu movimentar a terra de uma área superior a 15 alqueires nas fases de limpeza, deslocamento, alargamento, cortes e aterros no circuito, o vizinho Artur Pascoal Nono Gotardo teria interpelado Zilmar Beux argumentando que a obra do Autódromo invadiu sua propriedade, justo quando cada grão de soja parecia uma pepita de ouro para o agricultor.
O chargista Wanderley Damasceno, do jornal Fronteira do Iguaçu, abordou com bom humor o episódio, logo superado com o diálogo entre as partes. O "Gi" mencionado no desenho era o delegado de polícia, Giddalti do Nascimento.
Cooperativa metia medo
Em março de 1974, Adolpho Cortese transmitia a presidência da Coopavel a Roberto Wypych. Sendo um líder influente, embora seus negócios o levassem ao Paraguai e ao Mato Grosso, Cortese permanecia na vice-presidência, mantendo a unidade de propósitos necessária para fortalecer a empresa.
Nesse quarto ano de atividades não havia mais como duvidar do sucesso do cooperativismo, mas antes que a mentalidade pró-cooperativa vencesse transcorreram anos de intensa luta, desenvolvida pelo então presidente da Associação Rural, Antônio Simões de Araújo.
Sua primeira tentativa de criar uma cooperativa em Cascavel, apoiado no exemplo da Copacol, em Cafelândia, se deu na reunião da Associação Rural de 25 de novembro de 1967.
Com cautela, Simões de Araújo sugeriu a necessidade de formar "uma cooperativa de produtores rurais composta pelos membros do mesmo sindicato e por todos os interessados desta região". A proposta foi aceita pelos associados presentes e Simões convocou uma assembleia extraordinária para criar a cooperativa, mas quando a notícia chegou lá fora a situação era outra.
Atravessadores em ação
A propaganda negativa dos atravessadores acusava Luiz Luíse, criador da Copacol, de ser "padre comunista", que, por sua vez, fez ver que apesar de terem origem no socialismo utópico, as cooperativas são empresas capitalistas como quaisquer outras, sem orientação partidária.
Para driblar a oposição ao cooperativismo, Simões fez constar no edital de convocação da Assembleia Geral Extraordinária marcada para 10 de dezembro de 1967 como ordem do dia apenas o item "tratar de assunto de necessidade da classe".
Na época, o edital era transmitido pela Rádio Colmeia, a única emissora da cidade. Os opositores que julgavam a cooperativa"coisa de comunista"se mobilizaram para esvaziar a assembleia e impedir que ela deliberasse.
Quase conseguiram, mas Simões se empenhou e reuniu número legal para iniciar a reunião. Abriu o encontro expondo a natureza e a finalidade de um Sindicato Rural, no qual ARC deveria se transformar, por força de lei. Afirmou que uma das tarefas sindicais seria "promover a criação de cooperativas para as classes representadas".
Ascensão e declínio
Houve apoio à transformação da ARC em sindicato e assim Antônio Simões obtinha uma primeira vitória, mas muito esforço ainda seria necessário nos próximos três anos. O que desequilibrou a disputa entre os adeptos do cooperativismo e seus contrários foi a explosão positiva de preços no mercado externo e a criação do Projeto Iguaçu de Cooperativismo, em 1970.
Mas ainda em 1974 havia muita angústia entre os produtores, como contraponto à euforia dos sojicultores com os bons preços da soja. Ocorria o rápido declínio da suinocultura, que ano após ano perdia a robustez que um dia teve, quando a região de Cascavel foi a maior produtora do país.
O avanço da mecanização da agricultura e a euforia da soja atropelaram a suinocultura, apertada pela queda na relação entre o custo de produção e o preço de venda.
O processo já se mostrava tendencial: 140 mil cabeças na safra de em 1971; 114 mil em 1972; 80 mil em 1973; e 60 mil em 1974.
Com a explosão imobiliária e o êxodo rural, a cidade de Cascavel crescia como nunca e os desafios se acumulavam: crianças precisando de escolas, o crime em escalada, serviços públicos defasados, o crônico problema do abastecimento de água e a necessidade urgente de organizar o desenvolvimento urbano.
É por isso que em 5 de dezembro de 1974 a Câmara autorizou a Prefeitura a contratar junto ao Branco Nacional da Habitação (BNH) convênios para fazer parte do Projeto CURA (Comunidade Urbana de Recuperação acelerada), origem de grandes transformações
Bases fortes para a cidade
Projeto fundamental para a disponibilidade de água, o CURA resultou na formação do lago e na modernização urbana em geral.
Tudo era consequência da produção rural, cujos reflexos se apresentaram para Cascavel na forma de uma profunda reorganização do espaço urbano, com a elaboração do Código de Obras, da Lei de Zoneamento e da Lei de Loteamentos.
Essas leis foram elaboradas para disciplinar e controlar o crescimento urbano, em expansão descontrolada resultante do enriquecimento trazido pelo boom agrícola: em meados da década de 1970, o perímetro urbano de Cascavel chegou a ser o maior do Estado, afora a capital.
O sucesso da agricultura cascavelense também se traduziu em força política, com a eleição dos vereadores Paulo Marques para a Câmara Federal e Fidelcino Tolentino para a Assembleia Legislativa, ambos ligados ao prefeito Pedro Muffato e ao MDB, o partido de oposição à ditadura. Eles tiveram o apoio maciço dos agricultores e das comunidades urbanas emergentes.
Em 1974, a conquista marcante da Coopavel foi inaugurar a filial de Capitão Leônidas Marques. (Leia amanhã: Mecanização esvazia o campo e estende a cidade)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!