Eleições municipais (fim)
J. J. Duran
Neste momento litúrgico da história, quando a democracia permite a todos expressarem com liberdade seu pensamento político nas urnas, agradeço a Deus pela oportunidade de viver no Brasil, onde cheguei como dissidente político e me estabeleci e constituí família.
O Brasil não é fruto circunstancial da ação de iluminados políticos ou de apóstolos evangelizantes, mas da escolha simples de homens e mulheres que têm a liberdade de votar e expressar suas opiniões.
Tomara os políticos que vierem a lograr êxito das urnas no pleito de daqui a duas semanas, sejam eles reeleitos ou estreantes na vida pública, façam da esperança depositada neles o limiar de um tempo fecundo de realizações em benefício da coletividade.
Que aqueles que despontarem das urnas como frutos da vontade soberana não esqueçam que essa liberdade de escolha que tem o eleitorado não lhes permite censurar, condicionar ou ameaçar, em nome de interesses menores, os partidos e pensamentos políticos derrotados no embate eleitoral.
O genial Andre Malraux nos deixou o ensinamento de que "quando morrem as liberdades, sobre suas cinzas nascem as forças que vão lutar por elas e prevalecer sobre os intentos das sombras da prepotência revanchista para iluminar desde a oposição democrática um novo tempo de pacífica convivência política".
As páginas da história indo-americana mostram que mesmo nas sombras funestas que realimentam velhas e conturbadas diferenças políticas circunstanciais, sejam elas produtos do autoritarismo ou do personalismo medíocre, sempre surgiram vozes a elevar bandeiras contra o despotismo e a degeneração democrática.
É necessário que todos - candidatos, assessores, ideólogos e analistas - façam sua parte para enterrar a tese de que quanto pior vai um governo, melhor serve aos interesses pessoais ou sectários de seus opositores.
Com a ajuda do Bom Judeu, sobreviveremos a esta apocalíptica pandemia dispondo do que temos de melhor para encontrar o caminho que nos leve à construção de uma mentalidade sociopolítica fraterna, na qual direitos e obrigações sejam parte primordial para todos que idealizam um futuro melhor do que o aquele tempo que nos legou a sociedade do consumo, do primitivismo, da libertinagem e da estúpida arrogância de pseudos apóstolos do renascimento.
O ato de respeitar a liberdade outorgada pela democracia não começa pelo desprezo àqueles que têm uma forma de pensar diferente da nossa.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná