Coopavel Ano 3: golpe no café e Guerra do Petróleo
As geadas de julho e setembro de 1972 representaram um forte golpe para as perspectivas da cafeicultura na região, determinando uma quebra em torno de 45% na produção.
Deu-se um fenômeno que surpreendeu os técnicos, habituados a ver desânimo depois de frustrações de safras: a confiança e o otimismo dos agricultores cascavelenses diante das adversidades.
O esporte era um poderoso elo de união entre agricultores, madeireiros e comerciantes. Era uma população jovem e otimista que esperava sempre pelo melhor.
O automobilismo se afirmava como um esporte de sucesso na cidade. Nas eleições de outubro se elegeu o prefeito Pedro Muffato, que se projetou como piloto, além de já ser um comerciante de sucesso e um dos líderes da comunidade esportiva também ligada ao futebol. Adolpho Cortese, fundador da Coopavel, aliás, foi um dos primeiros pilotos.
Incrível confiança
Apesar da crise financeira no meio rural que abateu o ânimo de triticultores pelo País afora, para grande surpresa das autoridades agrícolas, a reação dos agricultores cascavelenses foi bem diferente dos de outras regiões tritícolas também vitimadas pela frustração: ao contrário da redução esperada, a área plantada em 1972 na região de Cascavel aumentou em 56%.
Em 1973, a produção de soja no Oeste correspondia a 38,2% da produção total do Estado, enquanto a de trigo representava 34,8% de toda a produção deste cereal no Paraná (Ipardes).
A soja, ao lado do café o principal produto exportado pelo Paraná, já conseguia concorrer em produtividade com a produção americana, mas o grande fator de estímulo foram os preços obtidos no mercado internacional no ano de 1973.
A comercialização abriu o ano com os preços em torno de 38 a 42 cruzeiros a saca. Os agricultores nunca esperavam cotações superiores a 50 cruzeiros.
A quebra da safra americana com as enchentes ocorridas nas áreas produtoras dos vales do Mississipi e Missouri, e grande redução peruana de farinha de peixe com a diminuição da pesca de anchovas levaram as cotações a uma rápida escalada, até atingir, até o final da safra, os 120 cruzeiros a saca.
As maiores vendas foram feitas na faixa de 60 aos 90 cruzeiros a saca, fazendo-se um preço médio entre 70 e 80 cruzeiros.
Explorações e prejuízos
Comparando com a situação de alguns poucos anos passados, era uma transformação imensa em comparação com a situação que o empresário Geny Antônio Lago encontrou ao assumir a presidência da Acic, em abril de 1967.
Diante de relatórios das lideranças agrícolas, apesar da ditadura que atacava os suspeitos de lhe fazer oposição, Lago, corajosamente, manifestou ao Conselho Nacional de Comércio Exterior sua preocupação com as dificuldades sofridas pelos agricultores para vender a produção.
A região Oeste do Paraná é grande produtora de cereais, argumentou, "e tudo indica que no futuro a produção regional crescerá enormemente". "Nossos produtores, anualmente, se defrontam com o problema da falta de comercialização de seus produtos, sofrendo, em consequência, explorações que lhes acarretam enormes prejuízos".
Soja avança, café declina
O acerto da resistência dos agricultores e da união estabelecida para criar a cooperativa ficava bem claro já em 1972, quando só a região de Cascavel plantou 755,4 mil hectares com soja na região, contribuindo grandemente para a produção estadual de 638 mil toneladas em 1973.
A Era da Soja chegava para ficar, tendo como consequência o declínio da produção suinícola e um golpe fatal na cultura do café, que nos anos 1950 se acreditava que seria o carro-chefe da economia também no Oeste.
O golpe veio na forma de um enorme ataque de ferrugem, que se completou com a elevação dos custos de mão-de-obra, o desestímulo dos preços e o temor do governo de uma dependência exclusiva da economia paranaense ao café. O governo, claramente, estimulava a diversificação de culturas.
Explosão imobiliária e ferrovia
Para Cascavel, o céu era o limite. A explosão imobiliária acompanhou o boom agroexportador. Só no ano de 1973 a Câmara aprovou duas leis aumentando os limites do perímetro urbano da cidade.
Os cascavelenses mantiveram a euforia mesmo quando eclodiu a Guerra do Petróleo, em outubro 1973. Já se sabia nesse fim de ano que o transporte rodoviário seria afetado, encarecendo excessivamente o valor dos fretes para o transporte da soja ao Porto de Paranaguá.
As lideranças rurais responderam à ameaça pressionando o governo federal a construir a Ferrovia da Soja. A bandeira se tornou a palavra de ordem dominante na região, puxada pelas cooperativas.
Resposta à crise do petróleo: estrada
Por essa época acontecia o fortalecimento do sistema cooperativista, por meio da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), "que havia sido fundada na década de 1960 e encontrava espaço para se fortalecer, no contexto da modernização da agricultura" (Irene Spies Adamy, Formação e Organização Política da Classe Dominante Agrária: A Sociedade Rural do Oeste do Paraná).
As lideranças oestinas não acusaram o golpe da crise do petróleo: em novembro de 1973 iniciaram a construção do trecho Cascavel-Toledo da BR-467. Os líderes rurais pensavam de forma estruturante, lutando pela ferrovia, mas os cascavelenses ainda sonhavam muito nos anos 1970 com estradas asfaltadas. (Leia amanhã: Wypych na cooperativa, transformações na cidade)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!