Coopavel Ano 1: os desafios do primeiro ano
Formalizada como empresa em 11 de março de 1971, a Cooperativa Agropecuária Cascavel, inicialmente conhecida como Copavel e depois, em definitivo, como Coopavel, passa a se estruturar e anuncia à comunidade cascavelense que terá como primeira atividade o comércio de insumos para o plantio de trigo da safra do ano seguinte, utilizando-se inicialmente de armazéns pertencentes a terceiros.
O cenário que se desenhava era um paraíso quando os agricultores recordavam o que haviam passado nos anos finais da década de 1960.
Com o descaso do governo ditatorial, que não precisa prestar contas à sociedade, eram cometidas irregularidades descaradas, como aconteceu nos procedimentos de comercialização da safra de feijão em 1967, com a conivência de autoridades.
"Usando a cobertura de silêncio que a ditadura impunha, os traficantes de influência ligados ao governo e transnacionais estenderam uma trama de atravessamento criminoso sobre os agricultores. Faziam parte da rede de aproveitadores inclusive altos chefes do Banco do Brasil e seus gerentes pelo interior rural. (...) O Banco do Brasil alegava que não podia comprar a safra de feijão por não haver condições de armazenamento. Sem a compra, o feijão apodrecia nas lavouras, causando um enorme mal estar entre os produtores rurais"(vereador Horalino Bilibio, manifestação na Câmara de Cascavel).
Preços e assistência
Frente ao horror daquela época, com o estímulo necessário de preços e assistência técnica, em 1971 a participação da soja no montante estadual da produção agrícola subiu 36,5%. Era resultado dos bons preços da leguminosa no mercado internacional e também do desestímulo à cafeicultura, afetada por geadas cada vez mais fortes.
No mundo faminto, os preços dispararam com a escassez da oferta de alimentos por conta da frustração das safras americana e russa, a primeira devido às inundações nos vales dos rios Missouri e Mississipi.
Sempre com a soja em meio a todos os comentários, dois assuntos ferviam nos debates comunitários, na Acic e Câmara Municipal em 1971: a necessidade de uma ferrovia para transportar tanta soja e a criação de uma universidade.
Desde 1964 a Acic insistia em uma faculdade de Agronomia, mas as autoridades achavam que havia a extensão rural para atender aos colonos. O que faltava em Cascavel eram professores para ensinar tantas crianças que nasciam e vinham com os pais no êxodo rural.
Estrutura física
Para a recém-fundada Coopavel, as prioridades eram contemplar as necessidades dos agricultores frente à nova situação e obter uma área para instalar os serviços operacionais da cooperativa.
Em clima de prioridade total à agricultura, a Prefeitura recebeu em agosto de 1971 autorização da Câmara Municipal para doar uma ampla área no novo Distrito Industrial à Coopavel
Depois da fundação, era a primeira grande conquista da cooperativa, que teve origem na iniciativa do deputado federal Lyrio Bertoli de abrir em Cafelândia no início dos anos 1960 uma filial da Associação Rural de Cascavel.
A ARC encontrou lá o padre Luiz Luíse, adepto da proposta cooperativista, e dessa união resultou o embrião da Copacol, criada em outubro de 1963.
Direto ao presidente
Houve pressões dos atravessadores contra a cooperativa e para enfrentá-la o deputado Bertoli e o padre Luíse decidiram denunciar ao presidente João Goulart a ação dos oportunistas que enganavam os colonos, controlavam até as agências do Banco do Brasil e arrancavam lucros exorbitantes em cima de seu trabalho.
Enquanto se discutia criar uma cooperativa em Cascavel, antes mesmo de seu nascimento houve uma providência que deu uma base sólida ao empreendimento: em junho de 1970 o vereador Horalino Bilibio apresentava na Câmara Municipal projeto de lei autorizando a Prefeitura a adquirir junto ao proprietário Erci Moraes uma área com 96 mil m² para sediar um parque industrial.
A proposta viria redundar na lei 750/70. Ao ser criada, em dezembro, a Coopavel foi a primeira empresa a se candidatar a receber uma fatia desse futuro Distrito Industrial. Era uma facilidade, mas muitas dificuldades foram vencidas até chegar à data da fundação.
O município das duas cooperativas
O interesse em criar uma cooperativa na sede de Cascavel - Cafelândia era então distrito de Cascavel - entrou no Projeto Iguaçu de Cooperativismo, mas a intenção era fazer com que a nova cooperativa absorvesse a unidade pioneira de Cafelândia.
A força política de Bertoli e a força comunitária do padre Luiz Luíse não permitiram.
Foi assim que em 15 de dezembro surgiu a Coopavel sem que a Copacol fosse liquidada. Com isso, Cascavel, que no passado tanto temia o cooperativismo, a partir de 1970 se destacava como um raro Município a contar com duas cooperativas.
Cascavel, assim, estava prestes a sofrer uma transformação jamais vista: a cidade que para se formar precisou doar terrenos para ter moradores, na década de 1930, agora vivia uma explosão econômica e imobiliária. A Coopavel teria que trabalhar para seus cooperados e eles teriam que participar das soluções rurais e urbanas.
"As dificuldades enfrentadas eram muitas, desde comercialização até o escoamento da safra, pois não tínhamos estradas, e a cooperativa viria para ajudar nessas demandas" (Vilson Albiero, revista Coopavel 440) (Leia amanhã: Brasil em crise e agricultor de Cascavel confiante)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!