Ação do crime organizado atormenta a vida no campo
Balanço da Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública) revela que a oscilação climática e as diferentes pragas que atacam as lavouras estão distantes de serem as únicas grandes preocupações dos produtores rurais paranaenses.
Nos últimos dois anos e meio, foram registrados no Estado 2.354 roubos (quando bandidos armados rendem as vítimas) e 19.261 furtos (em que ladrões levam os bens quando a vítima não está no local ou não percebem a ação) a propriedades rurais no Estado. Além disso, 1.026 veículos foram furtados e 750 foram roubados no meio rural. O período fechou com quase 23,4 mil ocorrências no período, ou 779 por mês.
"É um tipo de ocorrência que nos preocupa. O produtor rural trabalha de sol e a sol, paga seus impostos e, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, manteve a produção e sustentou a economia. Fazemos nossa parte da porteira para dentro. Precisamos que o poder público faça a parte dele e garanta nosso direito à segurança. Precisamos ter segurança para continuar produzindo", relata o presidente do Sistema Faep/Senar-PR, Ágide Meneguette.
Os casos sugerem que, cada vez mais, os bandidos estão de olho em bens específicos, diretamente relacionados à atividade rural, como máquinas e insumos, além dos próprios produtos agropecuários.
Há anos acompanhando a situação de perto, o Sistema Faep/Senar-PR tem adotado uma série de providências, seja cobrando autoridades ou orientando produtores rurais. No ano passado, por exemplo, foi solicitada uma força-tarefa para investigar e desbaratar quadrilhas que têm como alvo propriedades rurais. Em 2017, a Faep e Governo Paraná publicaram uma cartilha com orientações que os produtores podem tomar para minimizar a ação dos bandidos.
As principais orientações constidas na cartilha são: Iluminação: visibilidade reduzida favorece o bandido; Casa: a residência precisa ter a melhor visibilidade da propriedade; Portão: reforçado, pintado com cores claras e com sinalização de propriedade particular; Dispositivos eletrônicos: câmeras e alarmes com manutenção sempre em dia; Rebanhos: não deixar animais próximos a estradas e/ou longe das sedes; Galpões: devem ser posicionados em locais visíveis da sede e sempre trancados; Animais de guarda: cães adestrados e até mesmo aves como gansos podem ser úteis para auxiliar na segurança; Em caso de assalto: jamais reagir e não tentar enganar o assaltante;
Além disso, a entidade também vem estimulando que os agropecuaristas fortaleçam a segurança local, participando dos Conselhos Comunitários de Segurança.
RECEPTAÇÃO
Para as forças de segurança, este tipo de crime só se sustenta em razão de uma figura específica: a do receptador, ou seja, aquele que compra os produtos furtados ou roubados. Afinal, as quadrilhas de assaltantes só agem porque há mercado para os bens obtidos de forma criminosa. A pena prevista para receptação não passa de cinco anos de reclusão. Na maioria dos casos, esses criminosos respondem pelo crime em liberdade. Em caso de condenação, podem cumprir a pena em regime semiaberto.
Em setembro de 2018, por exemplo, a Polícia Federal deflagrou a Operação Roda Livre, que recuperou 18 tratores roubados ou furtados. Quatro dessas máquinas estavam em uma revendedora de veículos de Santo Antônio do Sudoeste, distante pouco mais de 160 km de Cascavel e onde os equipamentos eram negociados com produtores rurais do Sudoeste, que na maioria das vezes faziam as compras de boa-fé.
O problema, no entanto, é que as quadrilhas estão cada vez mais especializadas, o que dificulta o trabalho da polícia. Em alguns casos, os bandidos se articulam com servidores públicos. Em um dos casos, um secretário municipal de Agricultura chegou a ser preso. Ele emitia notas frias da carga que ainda seria furtada ou roubada. Quando os veículos eram abordados, os documentos falsos ajudavam a burlar a fiscalização. (Foto: Divulgação Polícia Civil)