Coopavel Ano 0: cooperativismo começou com uma derrota
Em 15 de dezembro de 1970, em assembleia geral presidida por Silvio Galdino de Carvalho Lima, coordenador do Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (Inda), e secretariada pelo vereador Luiz Picoli, 41 produtores rurais e uma empresa subscrevem um capital inicial de Cr$ 60.820,00 e criam a Cooperativa Agropecuária Cascavel (Copavel, depois Coopavel).
Eram eles: Moisés Fernandes Vargas, José Almar Vargas, Clemente Alberto Cortese, Albino Cortese, José Zé do Torno Smarczewski, Aroldo Cruz, Antônio Olímpio de Queiroga, Jacó Maximiliano Salvatori, Marcolino Rebellato, Roberto Wypych, Antônio Simões de Araújo, Ary Scherer, Pedro Storte Filho, Inácio dos Santos, Walter Linzmeyer, João Ramiro da Silva, Emílio Antônio Bebber, Lucídio Angelo Nazari, João Sbardeloto, Anísio Paim da Rocha, Indalésio Leffer Padilha, Ferdinando Periolo, Abílio Redivo, Osmar Ranghetti, Isidoro Bonato, Augustino Domingo Bonato, Osvaldo Expedito Dall?Oglio, Onório Bertá, Francisco Antônio Sciarra, Fermino Paim, Danilo Honorino Bernardi, Antônio Pedro Antognello, Artêmio Bernardim, Euclides Antônio Dias, Oscarlino Menks, Leopoldo Locks, Romão Holtman, Waldemar Walter Dal Molin, Ramiro Weidman e Cataratas Empreendimentos Agronômicos e Florestais Ltda, sob a presidência de Adolpho Cortese.
Agricultores espoliados
Aquela terça-feira, na verdade, não foi exatamente o início da Coopavel. Era só o resultado final de inúmeras tratativas que vinham já desde 1953.
Produzidas pelas alterações no sistema de vida rural e o desenvolvimento do capitalismo no campo, uma série de dificuldades sugeriam aos agricultores a impossibilidade de continuarem produzindo e negociando a produção de forma isolada.
Humildes, sem acompanhar as cotações de mercado, os produtores ficavam sujeitos ao preço ofertado pelo cerealista ou às condições impostas pelos compradores esporádicos ou periódicos.
Ofereciam preços defasados, combinando o pagamento após a venda dos produtos nas centrais de compra e davam calote, arruinando as famílias de agricultores que confiaram e acabavam no desespero, sem meios de sobreviver até a próxima colheita.
Por um voto
Em novembro de 1952, o farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos perdeu por um voto a eleição para a Prefeitura. A vitória coube ao agropecuarista José Neves Formighieri. Para manter unido o grupo derrotado em torno de uma causa, Tarquínio idealizou a Associações Rural de Cascavel, criada em 3 de janeiro de 1953.
A ARC nasceu tendo por metas a defesa dos agricultores e pecuaristas, já com a intenção de plantar os alicerces do cooperativismo, na época acusado de ser"coisa de comunista"pelos atravessadores que exploravam os agricultores desunidos e desinformados.
Polarização rural
O prefeito Neves Formighieri, ao contrário de ver a ARC como adversária, apresentou-se para se associar e apoiar a entidade em seus propósitos.
Encontrou lá o presidente da ARC, Antônio Simões de Araújo, mediando um forte debate deflagrado entre o ex-presidente Antônio Reis, que já havia acompanhado o processo de formação da Copacol, e o segundo vice-presidente da ARC, Lindolfo Limberger, a respeito da viabilidade do cooperativismo no Oeste.
Reis suponha que o cooperativismo, sendo polêmico, iria desunir os agricultores, o que traria prejuízos para a entidade. A perseguição política no pós-1964 esvaziou a entidade, que passou a ser vigiada por uma tutela militar. Por isso Reis estava cético em relação aos rumos cooperativistas. Disse que"o povo do Oeste não tem cultura suficiente para ter uma cooperativa".
O desânimo de Reis com a ditadura não lhe permitiu ver que dentro do regime havia tensões e disputas internas. O cooperativismo, na verdade, era cogitado tanto pelos novos governantes quanto pela oposição.
Banquiri, ação educativa
Desde 1954, a criação do Banco Agrícola Vale do Rio Piquiri Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ltda (Banquiri), por iniciativa de Alceu Barroso e Alceu Barroso Filho, sob a presidência de Djalma Rocha AlChueyr, começou a mudar a imagem do cooperativismo. O Banquri financiava atividades agrícolas, inovações e empreendimentos de ponta.
Djalma Al Chueyr, militar, revolucionário de 1930, presidiu a Fundação Paranaense de Colonização e Imigração e via na ação cooperativa um instrumento de fortalecimento do homem do campo.
Sob pressão depois de 1964, o Banquiri foi extinto em 1967, mas a ideia do cooperativismo permaneceu no interior da Sociedade Rural.
Em dezembro de 1966, uma assembleia geral da ARC ferveu quando Antônio Olímpio de Queiroga ignorou a oposição ao cooperativismo e foi direto ao assunto: a cooperativa precisaria ser mista (agrícola e pecuária).
Ficaria anexa ao Sindicato Rural e teria regras precisas para seu funcionamento: compraria toda a produção dos associados na base do preço mínimo do governo, depositaria a produção em armazém geral para envio direto ao consumidor e prestaria total assistência técnica na fase de produção.
Problemas e limitações
Vários membros da Associação Rural já entendiam que o cooperativismo poderia ser melhor, porque todos os dias apareciam pessoas bem vestidas e com propostas de lucros fáceis em investimentos imediatos, resultando em mais prejuízos.
O cooperativismo já se apresentava como a salvação dos colonos, mas muitos humildes agricultores que perderam muito por confiar em terceiros preferiam tocar os negócios dos sítios apenas com o controle absoluta da família.
No início de 1967 as propostas cooperativistas de Queiroga foram derrubadas por uma questão de direito: a Associação Rural não podia criar uma cooperativa, que precisaria ter a chancela do Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (Inda), atual Incra, ao qual cabia autorizar a criação e funcionamento de cooperativas no país. (Leia amanhã: Um primeiro ano desafiador)
(A foto, do arquivo histórico da Coopavel, mostra cooperados reunidos: fundadores e primeiros associados. Destaques: Sílvio Galdino, do Inda (atual Incra), que presidiu a assembleia geral de fundação, e vereador Luiz Picoli, que secretariou)
Fonte: Projeto Livrai-Nos!