Paraguai: de Francia a Marito, quanta história!
Alceu A. Sperança
"A História é um carro alegre/Cheia de um povo contente/Que atropela indiferente/Todo aquele que a negue" (Chico Buarque, Canción por la Unidad Latino-Americana).
Talvez tenha sido assim nos tempos de Francia, El Supremo. A partir de 1812, sob os lemas "independência ou morte" e "ordem e progresso", ele decretou a igualdade entre os homens, proibiu a riqueza e promoveu a reforma agrária. O que aconteceu com esse utópico "esquerdista" radical? Aconteceu que ele fez do Paraguai a nação mais próspera da América do Sul.
A desgraça começou no final de 1864, quando o Brasil invadiu o Uruguai e o líder paraguaio Solano López respondeu invadindo o Mato Grosso. Em abril de 1868, há exatamente 150 anos, os soldados guaranis foram expulsos do Oeste brasileiro e as forças de Brasil, Argentina e Uruguai passaram a lutar apenas em solo paraguaio, em operações que se arrastaram por mais dois anos.
A Tríplice Aliança liquidou essa nação em abril de 1870, depois de cinco anos de um conflito que deu lucro à Inglaterra, poder à Argentina e dívidas ao Brasil. Adeus utopia nacionalista!
Hoje, o Paraguai sofre uma nova invasão: empresários brasileiros, fugindo da temeridade, mordem a isca Maquila da distopia conservadora que levou à eleição de Marito, herdeiro da ditadura Stroessner.
Assim mais um giro da história começa. Como cada dia traz um novo sol, a história enterrou a utopia de Francia no atropelo triste que deixou um povo descontente. Via de regra, povos descontentes um dia se rebelam e na busca da felicidade criam uma nova história.
Não custa dizer que o Dr. Francia, professor apegado à ciência e o líder que deu força e progresso ao povo Guarani, era filho de um brasileiro que ainda jovem foi plantar fumo no Paraguai.
Alceu A. Sperança é jornalista e historiador