A grande bolha
J. J. Duran
O modelo atual de sociedade está em aberta discussão por culpa de um vírus chegado da terra dos mandarins e que há meses fomenta um amplo debate sobre como deve ser o modelo futuro.
A humanidade como um todo finalmente parece reconhecer a falência da organização social atual e a falta de previsões críveis frente ao imprevisto, mostras inequívocas de que nossa geração não teve verdadeiros líderes para ofertar amparo e soluções frente à pandemia e inúmeros outros problemas que afetam o mundo todo.
As próximas gerações vão nos cobrar por estarmos vivendo dentro de uma bolha onde tudo é felicidade, consumismo, permissivismo moral, profusão de múltiplos dogmas religiosos e adoração à mística aparição de pseudo salvadores da pátria.
Seremos julgados pela História como amostra daquilo que jamais se deveria fazer, sobretudo em tempos tão dramáticos quanto o que estamos atravessando, com os homens públicos vivendo a paranoia da incompreensão e levantando teorias conspiratórias.
Os falsos ícones adorados pela maltratada sociedade feudalista-familiar serão desglorificados e reduzidos a tristes figuras broncas e histriônicas que, por sua mediocridade, surgiram para converter a realidade em uma pobre história sociopolítica.
Passado o tempo pandêmico a humanidade deverá analisar, ao recontar seus mortos, até onde vai a culpa de cada um de seus membros pela incapacidade de saber eleger democraticamente seus governantes. E entender que se conhece os homens públicos não pelo que eles dizem, mas pelos ideais que defendem durante sua vida toda.
E nesse exame de consciência será imperativo reconhecer que a culpa por esse terrível desencontro frente ao ataque viral não deve ser atribuída apenas aos governantes indecorosos e despreparados, que levaram muitas repúblicas à prostração, nem às ideologias da esquerda socialista do século XX ou da direita reformista evangelizadora e autoritária.
Também são culpados todos aqueles do povo que, continuamente equivocados, levantaram bandeiras extremistas e ideológicas e produziram nas urnas mitos que, na realidade, foram e continuam sendo produtos mal acabados de um poder econômico escondido na sombra do poder político. (Imagem: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná