Ponto para a pandemia
Em pleno século XXI é inadmissível que não saibamos separar alhos de bugalhos, por isso é necessário cautela em toda afirmação como a sustentada no título desse breve texto. Mas há casos, como é o da conduta da maioria esmagadora da população em relação à pandemia, que saltam aos olhos e permitem afirmar que o Brasil é uma nação, com o perdão do trocadilho, ainda distante de atingir a fatia da independência que não pode prescindir do estrito respeito às leis.
Nascida na década de 1970, a famigerada "lei de Gerson", inspirada num comercial dos cigarros Vila Rica no qual o craque com esse nome e parceiro de Pelé e Cia. no timaço tricampeão mundial aparecia dizendo fumar aquela marca porque gostava de "levar vantagem em tudo", há muito virou prática cotidiana principalmente daqueles míopes cuja visão não vai além do seu metro quadrado.
Uma prova disso pode ser extraída da pesquisa Ibope para o jornal O Globo e divulgada nesta segunda-feira (7), revelando que mais de sete em cada dez brasileiros (72%, para ser preciso) defendem a retomada das aulas presenciais só depois da descoberta e aplicação em massa de uma vacina que previna docentes e discentes contra o novo coronavírus. Mais: só 6% discordaram totalmente dessa tese, defendendo que as aulas convencionais sejam retomadas imediatamente, o que também é um exagero.
O bom senso aparente da maioria esmagadora dos 2.626 brasileiros maiores de 18 anos ouvidos de 21 a 31 de agosto cai literalmente por terra diante de acontecimentos deste feriadão que estão sendo abundantemente mostrados pela imprensa. Em Cascavel, o desfile de 7 de Setembro foi suspenso para evitar aglomeração, em uma medida acertada mas que não se repetiu em incontáveis casas noturnas e os famigerados "bobódromos", locais onde o exercício do livre arbítrio em forma de consumo desmedido de bebidas fez milhares de jovens ignorarem a importância do isolamento social e do uso da máscara, incômoda mas necessária.
Em Foz do Iguaçu, onde novas restrições começaram a vigorar nesta segunda-feira por conta do crescente número de testes positivos, algo ainda pior aconteceu: a polícia teve que intervir para acabar com uma festa que atraiu em torno de 200 jovens a uma chácara. Algo parecido aconteceu em Curitiba, onde um bar não tinha nem mesmo alvará para funcionar mas parecia a arquibancada de um estádio lotado tamanho o número de pessoas que se acotovelavam em um espaço ínfimo e improvisado.
Em âmbito nacional, quem acordou cedo neste feriado e acompanhou o noticiário matinal de qualquer rede de televisão ficou perplexo com as imagens do movimento em rodovias e principalmente praias. Parecia o Brasil de antes da pandemia, em alguns locais com concentrações raras vezes vistas antes. Agora é aguardar para ver as consequências disso tudo. Que certamente não serão boas, claro.