J. J. Duran

O culto a heróis e mártires prescinde de lugar e hora. Em qualquer momento o povo se prostra para venerar os que, por amor ou por sacrifício, conquistaram a eternidade na lembrança reverente da República.

Reconhecendo os privilégios da intemporalidade, o povo costuma erguer altares cívicos para lembrar os nomes tutelares da sua história, o que irá se repetir uma vez mais no Brasil neste 7 de setembro.

No meio de tal cenário, batendo em portas inúteis, o vulto quase solitário de Tiradentes, com um exemplar da Constituição americana em mãos, proclamava com mística devoção suas ideias de independência.

Evocando os distantes dias febris da Inconfidência, devemos louvar aqueles patriotas que não desanimaram, não cederam ante a força brutal da repressão e, com seus exemplos, ensinaram a todos que nas transitórias derrotas só permanecem na memória do povo aqueles utópicos que sempre lutam pela liberdade.

A crise que nos assola não encontra precedente na história do Brasil. A pandemia apocalíptica aponta para um futuro de dificuldades, com dias de penumbra nos lares daqueles pouco ou nada contemplados pela decantada justiça social.

Neste momento, falar do futuro exige temperança e meditação serena do imprevisível. Exige de todos um esforço conjunto, que deixe de lado circunstanciais diferenças para reerguer a nação a partir de pilares sustentados no reencontro fraternal.

Que nesta hora difícil e decisiva de nossas vidas sejamos possuídos pela mística herdada dos inconfidentes e capazes de unir em torno da República todas as forças geradoras do trabalho, da recuperação e do sentido histórico que o País reclama.

A liberdade que nos dá o regime democrático, que sempre prevalecerá sobre eventuais predomínios de autoritarismo, é advinda da conquista da independência, fruto de vitoriosa luta contra o absolutismo.

Até hoje repercute no coração de todos os brasileiros uma emblemática exortação de Tiradentes, segundo a qual"se todos quisermos, haveremos de fazer deste País uma grande Nação".

J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná