A mentira na política
J. J. Duran
Durante o autoritarismo delirante que se abateu sobre a indo América lá pelos idos de 1960, a liberdade de expressão, a verdade e a dissidência foram lâmpadas votivas permanentemente acesas aos que resistiram ao regime ditatorial e se dedicaram a lutar pelo restabelecimento da democracia.
Já a mentira oficializada e praticada quotidianamente como sinopse do poder, foi ferramenta destinada a falsear deliberadamente a realidade.
Os jovens dissidentes da época entendiam que toda mentira saída da boca de um governante refletia uma emoção oculta da responsabilidade e grave culpa frente à História.
Como bem define o conceituado advogado Fernando Gaspar Neisser em seu livro "Crime e Mentira na Política", essa condenável prática se elevou e se eleva ainda hoje ao status oficial em um arriscado exercício de poder como forma inequívoca da deformação, da mediocridade e da inautenticidade dos valores defendidos por quem a pronuncia. E a corrupção em geral, praticada desde sempre, é traição clássica ao juramento feito durante a posse de todo e qualquer político.
Mentir em nome da governabilidade é atitude tacanha e carente de sustentação jurídica. É imoral, como imoral é a conduta daquele homem público que, no exercício do mandato, usa e abusa das metáforas para justificar o injustificável.
Mentir é abrir passagem para as devastadoras aves de rapina republicanas, os saudosistas da longa noite do liberticídio, bem como aos novos apóstolos evangelizadores de uma política cuja ideologia impede o diálogo e o debate nos foros constitucionais que tem a República.
Também é imperativo lembrar aos políticos detentores de mandatos e seus fiéis seguidores que o governismo saudoso de um passado que deixou muitas cicatrizes e a oposição passional e radical apenas agravam este momento, quando um vírus sem ideologia nem guru reclama a verdade e o silêncio em memória dos muitos do mundo todo que tiveram suas vidas ceifadas pela pandemia.
Por fim, é importante frisar que a mentira como uma espécie de "pão nosso de cada dia" também não cura as feridas daqueles que perderam entes queridos pela resistência em ouvir a voz da prudência, da serenidade e da possível verdade.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná