A década perdida
J. J. Duran
A década perdida é uma designação usada pelos povos de origem hispânica para se referir ao período mais crítico da América Latina, que se passou nos anos de 1980 e em alguns países invadiu a década de 1990.
Passados 30 anos percebe-se, infelizmente, que essa designação segue atual para várias dessas populações, que continuam assistindo ao roubo de seus objetivos e sonhos em um cenário de penosa batalha pela reconquista da liberdade.
Os que viveram e vivenciaram esse tempo têm claro em mente que foi um período duríssimo e que deixou de ser armado, mas se converteu em uma ferramenta de divisão política e cultural.
Na luta bem mais pacífica de agora pela transformação organizada de uma sociedade emergente de uma década de corrupção alimentada pelo Estado governante, as eleições realizadas entre o fim do século anterior e o início do atual em diversas repúblicas consideradas democráticas só serviram para demonstrar a pouca lucidez das massas para acelerar o processo de transformação necessário para enterrar de vez esse passado de tristes lembranças.
Governos autoritários se instalaram a partir da escolha catastrófica, pelas urnas, de homens que, no exercício do poder público, ao assumirem logo revelaram suas falsas biografias e impuseram a seus povos tempos de generalizada roubalheira aos cofres públicos.
Nessa cruzada devastadora, a união das forças do capitalismo com governos chamados populistas jogou por terra os esforços produtivos e os freios morais que restavam no fator político.
Isso levou à morte dos partidos como instituições representativas de plataformas éticas e deu margem ao surgimento de bandos de criminosos do colarinho branco, que se apropriaram do máximo possível das riquezas produzidas pelo esforço do simples homem da rua.
Durante uma despretensiosa conversa sobre este assunto, um dileto amigo me disse recentemente que, nesse período de transição entre séculos, muitos países da indo América votaram em um sonho e sem demora se viram despertando de um terrível pesadelo.
De minha parte, entendo que em pleno 2020 seguimos vivendo entre o risco de morte emanado do terrível e misterioso vírus oriundo da Ásia e o descontrole de homens públicos que, por sua mediocridade ou seus sonhos messiânicos, estão mergulhando seus países em uma nova década perdida.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná