Pandemia e política
J. J. Duran
Estamos, como parte da humanidade, expostos a uma nova realidade. Mas em meio a um assolador cenário de terror, morte e impotência à espera de uma solução para a pandemia, nossa República também se vê em meio a um perigoso estágio de radicalização política.
Não defendo um governo que não manifeste suas coordenadas ideológicas e suas intenções de retomar costumes, até porque na democracia republicana aprendi nos textos, porém mais na universidade da vida, que fazer oposição sectária, intolerante, implacável é parte de um maniqueísmo mesquinho e medíocre.
Mas é imperativo observar que toda luta verbal impositiva e sem bases lógicas é capaz de levar um país que vive uma democracia plena à exasperação e ao agravamento de todos os seus problemas.
A oposição ao Governo Jair Bolsonaro deve ser firme e decidida, porém respeitosa, leal e responsável. Afinal, como o presidente sempre invoca, a Nação sempre se deve ser colocada acima de circunstanciais e temporárias diferenças políticas e ideológicas.
A democracia que levou o atual governo ao poder se sustenta nas leis e nas instituições senhoras da República, dentre elas um Parlamento onde todas as correntes de pensamento convivem, dialogam e debatem como determina a pedagogia política.
Com todo respeito ao Brasil fraterno que acolheu sem ressalvas a todos os dissidentes dispostos a reiniciar suas vidas, sou forçado a observar que durante a longa noite do liberticídio que se abateu sobre meus irmãos platinos, a luta pela liberdade se converteu em lâmpada votiva para que não se apagasse no coração de todos o amor à justiça e à vivência plena do Estado de Direito.
O Brasil tem uma sociedade que não aceita imposição de credos autocráticos, cultua a tolerância e faz da cordialidade e da compreensão atitudes próprias de seu espírito.
No presente momento há muitos que insistem em manter os resíduos do arbítrio e a busca do pensamento único e da opressão ao adversário, mas todos devem saber que a crueldade da peste que atinge a humanidade toda nos chama a uma inevitável reflexão sobre o fato de sermos todos mortais e habitantes apenas temporais da terra.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná