O Planalto veste farda. E daí?
Quando a hipocrisia toma conta do debate, a verdade perece. Sempre foi assim e não haveria de ser diferente agora, quando o Brasil se vê afundado até o pescoço em um mar de radicalismos sem precedentes na história da República.
A mais nova bandeira da oposição, que no afã de criticar o governo atual acoberta o fato óbvio de ter se saído muito pior quando esteve no poder, é atacar o presidente pelo fato de ele ter mais que dobrado a presença de militares da ativa e da reserva no governo. A impressão que passa a partir dessa preocupação, nascida de uma manifestação do ministro do STF Luís Roberto Barroso, é que militar é uma espécie de ser extraterrestre ávido para invadir nosso planeta e não um brasileiro que seria como outro qualquer não fosse só por um detalhe: o fato de ter aprendido a respeitar a hierarquia e a disciplina muito mais que qualquer civil.
?Quando você multiplica militares no governo, eles começam a se identificar com vantagens e com privilégios". Essa foi a esdrúxula justificativa dada por Barroso ao manifestar sua preocupação, como se não fosse o STF o exemplo supremo dos privilégios instituídos ao longo das últimas décadas e que não param de sangrar os cofres públicos.
É inegável que o atual governo tem uma série de problemas, mas a reflexão neste momento deveria focar não a militarização de cargos estratégicos e sim o fato de ele não ter apresentado, até o presente momento, o principal defeito que levou as gestões imediatamente anteriores a virarem tema diário do noticiário policial: a corrupção. (Foto: Fernando Frazão/AGBR)