O sacrário das liberdades
J. J. Duran
Nessa hora turva da vida republicana, quando pequenos grupos tentam fazer ressurgir velhas e já caducas ideologias, silenciar não é ato lúcido para ninguém com alguma parcela de responsabilidade na vida pública.
Há que se fazer vigília pelo respeito à Constituição e não se pode respeitar, por maior poder que lhe outorgue o sistema democrático, aquele que não respeita nem faz respeitar os postulados da Carta Magna.
A República impõe respeito às suas instituições e seus ocasionais gestores. Não há tempo nem lugar para vacilações por parte daqueles que exercem gestão política no quadrante civil.
Alguns tentam menosprezar a tendência do povo brasileiro de buscar para todos os problemas, por mais graves que estes se configurem, soluções pacíficas que conciliem interesses aparentemente contraditórios.
Não é possível conviver em um cenário onde se afronta, sem pudor e sem limites verbais e com ocasionais atos circenses, a legitimidade das instituições maiores do chamado Poder Judiciário, por mais que este também tenha pecados de todos os tamanhos.
Alguns poucos tresnoitados embriagados pelo passado e surgidos do nada em um cenário pacífico incendiaram espíritos, agradaram parte da imprensa e pediram o fechamento do Parlamento em atos de insanidade republicana incomum mesmo em um tempo de plena liberdade.
Aqueles que, como eu, viveram o turbulento passado já distante e marcado por desencontros fratricidas produzidos na indo América no século passado, temem o que pode ser produzido pelo rompimento entre correntes irredutíveis e fechadas a todo tipo de diálogo com o restante da sociedade.
Quando se suprime o diálogo, se instaura o discurso do ódio e se transforma a mentira em verdade, se trilha o caminho de um final desconhecido, mas seguramente trágico.
É chegado o momento de refletir mais detidamente sobre o processo político brasileiro, reduzir incompatibilidades, eliminar diferenças e transformar os apelos insensatos de extremistas num mero momento de desvario mental impulsionado pela eterna minoria que traz no seu pensamento a ruína do organismo republicano.
O Supremo Tribunal Federal é um sacrário inviolável das liberdades e deve ser respeitado e mantido à margem dos conflitos de interesses e acima das ocasionais deformações ideológicas. Afinal, é ele o supremo guardião do sistema democrático, que ampara e protege contra o temporal da prepotência e da razão da força cantarolada pelos medíocres de turno.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná