O Brasil na hora 25
J. J. Duran
Não há por que entrar em desespero e fechar os olhos para a gravidade do momento, que reclama de todos os brasileiros uma honesta tomada de posição e a disposição de encará-lo como contingência de todo processo democrático.
Milhões de vozes clamam pela retomada do diálogo e do debate respeitoso e construtivo entre os três poderes, de forma a devolver à República o tempo de conciliação.
Há que se deixar fora do choque das paixões os conflitos menores gerados por interesses ou posições adotadas por aqueles que representam circunstancialmente o poder, a ordem, o Estado de Direito e a independência inviolável das instituições.
Há que se colocar o discurso de conciliação acima das deformações ideológicas que vêm dividindo a sociedade em bandos irracionais pelos pensamentos antagônicos.
Precisam guardar patriótico silêncio as vozes sectárias que se tornam fanáticas intolerantes e se blindam, arrogantes, de todo apelo feito em nome da razão.
Que não viva a República uma nova hora da eliminação do debate, da redução da área da livre expressão, do pensamento único, da denominação pejorativa e do discurso presidencial entre "nós" e "eles".
Que esta não seja a hora nefasta precursora da introdução do autoritarismo na sua forma clássica, ou na sua forma mais branda, porém não menos funesta, dos mitos autocráticos salvadores.
Temos que tudo fazer para desanuviar os espíritos da radicalização ideológica, que é senda intolerável de todo processo que suscita a divisão entre irmãos e inspira a violência como fim do culto ao despotismo e à adoração ao personalismo.
Toda disputa em tempos democráticos tem seu sodalício institucional no venerável espaço parlamentar, de cujas tribunas e por meio de seus representantes democráticos o povo pode expressar seu pensamento.
O Brasil tem toda uma geração de homens e mulheres que trabalham arduamente para superar a crueldade de uma peste que ceifa cada dia mais vidas e não merece enfrentar também uma pandemia antidemocrática.
Que não intentem esses tresnoitados perturbar o império da lei. Que seus rancores se apaguem detrás de suas loucas ambições personalistas.
Lembremos que falsa democracia abriga falsos mitos e quando o poder perde o sentido ético se transforma em força desagregadora cujos frutos são a intimidação e a desagregação.
É preciso tratar de começar a conciliar enquanto há tempo, pois a hora 25 já chegou.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná