Soberba, ruína e queda
J. J. Duran
No outono da democracia brasileira mal se preconizou a primavera eleitoral de outubro vindouro e os laboratórios e meios de comunicação já começam a fabricar novas biografias e a anunciar quantidades mirabolantes de realizações feitas por "iluminados" representantes do povo que, na verdade, não passam de beneficiários de cantigas que procuram fazer com que o eleitorado esqueça os gravíssimos fatos delitivos que aguardam o veredicto da Justiça.
Será um desatino se os eleitores não ouvirem a voz dos 13 milhões de brasileiros desempregados perambulando até a exaustão à procura de empregos para levar o pão para a mesa dos filhos. Esse quadro criminoso sim é produto da corrupção e dos corruptos representantes do povo, eleitos errônea e estupidamente pelo voto cego.
Ocorreu na década infame o contubérnio mais falaz que se tem notícia na história brasileira. Foi a união profana, delitiva e irônica feita entre os mais abjetos que chegaram ao Congresso brasileiro e a cúpula corruptora do capitalismo selvagem.
Políticos-empresários e empresários-políticos destruíram as instituições e violaram moralmente a República. A Operação Lava Jato e os múltiplos e complexos informes jurídicos são fontes que têm permitido aos escribas relatar fatos aberrantes.
Quando o poder perde o sentido ético dos seus deveres históricos por ter abrigado em seu ventre salteadores da liberdade outorgada pela democracia, se transforma em força desagregadora que ameaça, intimida, diminui e perverte a alma da sociedade governada e degrada não somente as biografias dos apóstatas da política, como também dos bem intencionados que estão no seu entorno.
Não nos iludamos com os epinícios escritos e cantados pelos profissionais construtores de falsas biografias, que procuram em desvelado intento borrar em páginas propagandísticas o obscurantismo político e a mediocridade de muitos fraudadores da democracia.
Estamos nos aproximando das eleições de outubro com um cenário polarizado, onde o humor da sociedade não perdoa os fatos e efeitos do ilegítimo governo que beneficiou corruptos e corruptores do alto escalão delitivo, tanto público quanto privado.
A leitura pré-eleitoral deve ser feita olhando nosso presente, que é filho do passado escrito por muitos (não todos) daqueles que, para assegurar a manutenção dos benefícios do poder, hoje pedem novamente o voto do eleitor para renovar seus mandatos.
Os atores irrelevantes que procuram destaque no cenário político para ocultar seu passado são aqueles mesmos que, com seus gestos, palavras e escritos, destruíram tudo que prometeram depois de lograr o voto lá atrás.
Vale aqui lembrar uma frase de Salomão, que diz que "a soberba precede à ruína, e o orgulho à queda".
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras