Haja paciência com a ciência!
A pandemia do coronavírus, que hoje deve atingir a casa dos 400 mil óbitos no mundo todo, está coincidindo com tempos comprovadamente minguados para a ciência, a única esperança concreta em situações como essa. Até por isso é imperativo que cada centavo liberado pelo poder público para pesquisas seja investido com base em critérios que levem a qualquer resultado que não seja desperdício.
Pois salvo crasso engano científico, jornalístico, analítico e todos os outros "icos" e "ticos", faltou justamente esse zelo elementar ao pequeno grupo de pesquisadores da Universidade Federal mais antiga do Brasil, a do Paraná, que acaba de anunciar a conclusão um estudo que trouxe uma suposição (para piorar, ainda não uma confirmação) anunciada como uma espécie de última bolacha do pacote: que "as rodovias brasileiras podem ser rotas para a Covid-19". Em outras palavras, concluíram que o maldito vírus também anda de carro, caminhão e ônibus e não só nas ventas e nos beiços de humanos contaminados, uma descoberta que não haverá de causar inveja a qualquer conceituado laboratório científico do mundo.
"Verificamos que quase 95% dos casos estão situados em torno de 22% dos municípios brasileiros, cidades que englobam aproximadamente 53% da população total do Brasil. Isso indica uma concentração e um padrão de distribuição que acompanham alguns trechos rodoviários. Esse é um indício muito forte de que esses segmentos podem ser fortes vetores de contaminação", declarou um dos doutores envolvidos na pesquisa, trazendo de volta à lembrança de quem acompanha o site da UFPR uma manchete do último dia 29 anunciando que a universidade havia aberto inscrições para interessados na obtenção de mais R$ 11,23 milhões em recursos próprios (não seriam dos contribuintes?) para novos projetos de ensino, pesquisa e extensão.
A tal pesquisa, quem diria, traz uma apontamento secundário que diz respeito diretamente aos moradores de Cascavel, pois classifica as cidades localizadas em entroncamentos rodoviários (e que por isso recebem um número maior de viajantes) como uma espécie de endereço predileto do vírus chinês. Menos mal que para lidar com situações como essa podemos contar com a ciência da paciência, esta infalível e que não custa mais do que o preço de um bom antidepressivo. (Ilustração: Pixabay)