De vereadores a pistoleiros
A Câmara de Cascavel aprovou por unanimidade nesta segunda-feira um projeto assinado por 10 de seus 21 vereadores estabelecendo regras gerais de combate à corrupção, dentre elas a exigência de compliance para quem deseja fazer negócios com o poder público, uma espécie de palavra da moda que muitos políticos brasileiros escolheram copiar dos ingleses para, cá entre nós, engambelar uma vez mais os incautos, pois o significado nada mais é do que agir de acordo com as leis e os regulamentos vigentes, ou seja, manter a famigerada ficha limpa, algo quase tão antigo quanto em desuso.
E por uma dessas ironias do destino, a votação coincidiu exatamente com uma operação da Polícia Civil para desmantelar um esquema denunciado ao Ministério Público lá atrás por um dos autores dessa proposta, o vereador Fernando Hallberg. E por que ironia? Por uma razão simples e óbvia: porque fiscalizar é justamente a principal atribuição dos legisladores, coisa que, neste caso específico, com apenas uma honrosa exceção, eles deixaram de exercer, preferindo dedicar talvez a maior parte dos seus mandatos para propor, aprovar e entregar homenagens a uma lista quase interminável de pessoas totalmente comuns por seu histórico, mas em muitos casos incomuns pela retribuição que possam vir a dar como cabos eleitorais.
Quando a próxima eleição chegar - talvez apenas em dezembro e não mais em outubro deste ano - é imprescindível o eleitor cascavelense ter isso muito claro para, no caso de optar pela reeleição de algum deles, ter ciência plena de que o escolhido é digno ou não do seu voto. Afinal, eleição não é só para renovar mandatos mas também, e principalmente, a grande oportunidade de os políticos mostrarem à população o que fizeram por ela.
E para encerrar, que não se sintam os nobres vereadores discriminados por este comentário, pois ele é válido para absolutamente todos os integrantes do Poder Legislativo, e até principalmente a muitos com mandato em Brasília e que ultimamente têm se dedicado mais a lutar por eventuais benesses do atual governo do que em auxiliá-lo, por exemplo, a evitar aberrações como o fato de exatamente metade dos 22 pistoleiros mais procurados do País terem conseguido o auxílio emergencial de R$ 600 mensais sem serem importunados em seus refúgios.