A elite do fracasso
J. J. Duran
Tempos sombrios os que estamos vivendo. Tempos nos quais o que há de pior na vida republicana parece ressurgir para atualizar a gestão nefasta dos negociadores da ética em troca de benefícios espúrios.
Hoje, senhores e senhoras elegantes e pretensamente cultos saem em ruidosas carreatas a bordo de luxuosos carros pedindo ao ex-capitão e hoje presidente da República que destitua as máximas autoridades constitucionais dos outros dois poderes da tríade do sistema democrático.
Essa suposta elite voltou a abrir as portas do bordel cívico-republicano em Brasília com seus interesses perversos, incubando impostores moralistas que uma vez mais atacam a democracia e suas instituições em nome de um passado que somente a História escrita no futuro dará correta denominação.
No Brasil, a formação colonial criou elites egoístas e predatórias que só aceitam a democracia ilusória, aquela que serve somente para legitimar em raivosa catarse a miséria moral de determinados governos.
Preservar os pilares da ordem jurídica em meio a esta pandemia cruel que ceifa incontáveis vidas implica em controlar democraticamente os desvarios que são regra em um governo no qual a sensatez discursiva é uma exceção.
Na desconstrução sistemática do modelo democrático renascem em muitos ex-pagãos o amor a Deus e às palavras bíblicas. É farisaico ver como em tempos de confusão ideológica, das conceituações grotescas feitas pelos medíocres para se autorrotularem apóstolos, os vassalos erigidos ao poder esquecem que esse Deus único está vendo a entronização da hipocrisia como parte da liturgia oficial. Está vendo, e como sabemos todos seus fiéis seguidores, também castiga.
Albert Camus escreveu que "o problema da peste não está na forma grave como ataca o corpo, e sim como desnuda a alma". A elite do atraso é o lastro corrosivo que nos deixou o passado histórico indo-americano. (Foto: Reprodução Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná