Quando chegar a Primavera
J. J. Duran
Os otimistas acreditam que quando chegar a Primavera o intruso com ares apocalípticos chamado coronavírus (Covid-19) terá ido embora e o planeta Terra terá voltado a ser um paraíso para os atores do mercado e seus preciosos tesouros monetários. Já os pessimistas acreditam que o futuro é hoje, e que só se salvarão os realmente fortes neste"salve-se quem puder".
Um ser microscópico invisível aos olhos da Nasa destruiu o trabalho de séculos feito por diferentes faixas de inquilinos do planeta por culpa de todos nós. Mas, culpa principalmente daqueles que fizeram do mundo um oceano de náufragos, tamanho o descaso com a natureza.
Alain Touraine, um sociólogo francês já com seus 94 anos, mas uma mente ainda cheia de juventude inteligente, fez uma das mais brilhantes análises sobre o que hoje está se passando no planeta. A começar por manifestar que nessa crise não existem atores sociais ou políticos, apenas temor, silêncio e incertezas.
Acertadamente, disse que os magos da política de mercado agora só pensam em uma economia para a vida depois de verem muitos deuses das finanças morrerem e poderosos líderes mundiais se desacreditarem.
O inteligente velhinho agrega em seu comentário que toda manhã, ao ver a trágica curva ascendente da pandemia, detém-se nos números daqueles que escaparam do vírus, pois a situação exige uma reconfiguração do mundo e um novo estilo de vida em sociedade para as mais distintas nações e categorias em que a humanidade está subdividida.
A peste colocou na ribalta uma vez mais, dentro da dramática situação que vivemos, uma velha e, ao mesmo tempo, atual paranoia dos habitantes do planeta. Defensores das liberdades, dos direitos, da igualdade de gênero, do reinado do consumismo e outros próceres da ostentação se uniram aos miseráveis com um objetivo em comum: sobreviver. Porém, muitos também se uniram para fechar fronteiras, desterrar estrangeiros, sepultar a chamada solidariedade e matar de solidão os chamados anciãos.
Mas não sejamos pessimistas. Escrever em momentos difíceis como o que a humanidade está enfrentando requer verdade, gritar quando os outros se calam e defender os que nada têm. Precisamos fazer da esperança uma nova Primavera, com suas flores, tardes ensolaradas e o sorriso de milhões de crianças à espera de um futuro digno. (Foto: Getty Images)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná