O líder e as massas
J. J. Duran
Há cem anos o escritor Elias Canetti fez um detalhado estudo sobre a procedência das chamadas massas, seu papel e sua importância nos grandes movimentos da sociedade.
No seu livro"Massa e Poder?, o ensaio sociopolítico anterior à Revolução Bolchevique na Rússia tem renovada atualidade dentro de um cenário incerto dos pontos de vista político, econômico, social e religioso, algo que deverá se repetir, desta feita com toda a humanidade, assim que passar o pesadelo apocalíptico imposto pela Covid-19.
A história que relata a marcha da humanidade, nem sempre de forma voraz, descreve o protagonismo singular do indivíduo, que ao se juntar com outros singulares se converte em massa e exerce formidável poder decisório no cenário sociopolítico do Estado.
Dentro da dinâmica que impõe um acontecimento gravitante na vida e na estrutura social, essa massa não renuncia aos princípios, objetivos e condutas que a delinearam.
O componente singular da pluralidade chamada massa conserva sempre sua individualidade acima das condicionantes impostas pelas motiviações que o leva à rua.
A história da humanidade foi escrita pelas massas, que ao despertar de seus pesadelos sociopolíticos e econômicos e das frustrações impostas pelas desigualdades sociais, sempre ocupou o espaço livre das ruas para reclamar dos atentados do poder oculto que subjuga e frustra os sonhos daqueles que menos têm e que são sempre maioria nos padrões eleitorais.
As reações da massa são tanto racionais quanto irracionais, mas sempre esgrimem a consigna já escrita pelo sem nome e sem rosto pregador da"reconquista dos direitos usurpados".
Por vezes essas massas combatentes saem em apoio a líderes e suas mensagens libertárias de alto valor épico e chamativas de cruzadas messiânicas e do Pai Nosso evangélico. Desde Lutero sempre foram os verdadeiros pregadores do relato bíblico os que deram apoio às cruzadas resgatadoras da moral, dos desígnios de Deus e do sólido comportamento com dignidade.
Jair Bolsonaro é líder. Formado na rude vida da caserna, escolheu a Bíblia como base fundamental para seu propósito político e nada do que disse quando ainda candidato tem deixado de cumprir desde sua ascensão ao poder.
As massas que o elegeram saem às ruas gritando seu nome e reconhecendo-o como um político evangelista fiel cumpridor de suas promessas. Já para a oposição, como não poderia deixar de ser, representa"um momento da longa escuridão na vida das massas". O tempo se encarregará de mostrar quem está certo e quem está errado.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná